Sudão: combates continuam no país apesar de prorrogação do cessar-fogo


Confrontos já deixaram mais de 500 mortos, provocaram uma fuga em massa e agravaram a crise no país, uma das nações mais pobres do mundo. Fumaça na capital do Sudão, Cartum, neste sábado (29).
REUTERS
Os combates entre o Exército do Sudão e os paramilitares do país continuam neste sábado (29), mesmo após o acordo que estabeleceu um novo cessar-fogo para tentar encerrar o conflito, que já deixou mais de 500 mortos.
📝Contexto: Os confrontos no Sudão ganharam grande repercussão no dia 15 de abril e começaram depois de uma ruptura entre o Exército e o grupo paramilitar RSF (Forças de Apoio Rápido, em português). Em outubro de 2021, os dois grupos se juntaram para dar um golpe que tirou os civis do poder. Agora, o Exército e o RSF brigam pelo controle do país.
Neste sábado, o RSF acusou os militares sudaneses de bombardear em ataques aéreos bases do grupo em várias partes de Cartum, capital do país, apesar do cessar-fogo, que terminará no próximo domingo, de meia-noite. O Exército do país ainda não comentou o ocorrido.
Na quinta-feira (28), após esforços diplomáticos dos países vizinhos, bem como dos Estados Unidos, Reino Unido e da ONU, ambos os lados anunciaram a prorrogação da trégua por mais três dias, até a meia-noite do próximo domingo. Desde o início do conflito, porém, houve vários armistícios, mas todos fracassaram.
Na sexta (29), também em Cartum, onde os países estrangeiros se apressam para evacuar seus cidadãos, o Ministério da Defesa turco informou que um avião militar foi atacado.
Na região de Darfur, no Oeste do Sudão, testemunhas relataram saques em massa, enquanto homens armados disparavam foguetes em violentos confrontos urbanos.
Pessoas caminham entre objetos espalhados no mercado de El Geneina, capital de Darfur, no Oeste do Sudão.
AFP
Em um comunicado conjunto, Estados Unidos, Arábia Saudita, União Africana, ONU e outros países aplaudiram a prorrogação e pediram “sua plena implementação” e “um acesso humanitário sem restrições”.
“As violações do cessar-fogo não significam que seja um fracasso”, defendeu na sexta-feira o porta-voz do Departamento de Estado americano, Vedant Patel.
Pelo menos 512 pessoas morreram e 4.193 ficaram feridas nos combates até agora, segundo dados do Ministério da Saúde do Sudão, mas o balanço real pode ser muito maior.
Em algumas partes de Cartum, de cinco milhões de habitantes, os combatentes construíram trincheiras.
‘Guerra absurda’
Os combates se estenderam ao longo do território, especialmente em Darfur, onde as testemunhas relataram intensos confrontos. Em dois dias, essa onda de violência deixou mais de setenta mortos, afirmou um sindicato de médicos nesta sexta.
“Ao menos 74 pessoas morreram em 24 e 25 de abril em combates em El Geneina (Darfur) e ainda não é possível determinar um balanço para os dias 26 e 27 de abril, porque todos os hospitais da cidade estão fora de serviço”, precisou.
Uma porta-voz do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU revisou os dados para cima e afirmou nesta sexta que em El Geneina, capital de Darfur do Oeste, “ao menos 96 pessoas morreram desde 24 de abril” em enfrentamentos étnicos.
Segundo a Ordem dos Advogados de Darfur, os combatentes lançaram foguetes contra as casas. Também houve disparos de “fuzis, metralhadoras e armas antiaéreas”.
“Hospitais, edifícios públicos e centros de saúde têm sido gravemente danificados e há saques a cada esquina”, disse um habitante à AFP. A zona já foi cenário de uma sangrenta guerra na década de 2000.
Pessoas cruzam a fronteira do Sudão com Egito para escapar do conflito, em foto de 27 de abril.
ASSOCIATED PRESS
A Ordem dos Advogados apelou para que os dois lados “cessem imediatamente esta guerra absurda que está sendo travada às custas dos civis em todo o Sudão”.
A ONU, que interrompeu suas atividades no país após a morte de cinco trabalhadores humanitários, advertiu que já não pode prestar ajuda nesta região onde “50 mil crianças sofrem de desnutrição grave”. Também alertou para informações, segundo às quais, armas estariam sendo distribuídas entre as comunidades locais.
Êxodo em massa
Os combates provocaram uma fuga em massa e agravaram a crise em um país de 45 milhões de habitantes, uma das nações mais pobres do mundo.
Burhan anunciou nesta sexta que falou com os líderes do Chade, Etiópia, Sudão do Sul e autoridades da Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Daglo disse que falou com o primeiro-ministro etíope.
Em meio ao cenário de caos, centenas de detentos fugiram de três prisões, incluindo o presídio de segurança máxima de Kober, onde estavam presos ex-funcionários de alto escalão do regime deposto de Omar al Bashir.
O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU expressou na sexta preocupação por estas fugas.
“Estamos muito preocupados com a perspectiva de novos atos de violência em um clima de impunidade generalizada”, afirmou sua porta-voz, Ravina Shamdasani.
A disputa entre Abdel Fatah al Burhan e Mohamed Hamdan Daglo, que se aliaram em 2021 para tirar os civis do poder, surgiu a partir de planos para integrar as FAR ao Exército oficial.

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