França promete acelerar reformas após rebaixamento por agência de classificação de risco


O rebaixamento do rating francês foi anunciado na sexta-feira (28) devido às fortes tensões sociais em torno da reforma da Previdência, descrita pela agência Fitch como um “impasse político”. Emmanuel Macron durante reunião com a associação dos trabalhadores da França em 18 de abril de 2023
Stephanie Lecocq/REUTERS
Um dia depois que a agência internacional de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da França de AA para AA-, o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, garantiu, neste sábado (29), que Paris vai continuar a implementar reformas estruturantes.
O rebaixamento do rating francês foi anunciado na sexta-feira (28) devido às fortes tensões sociais em torno da reforma da Previdência, descrita pela agência como um “impasse político”.
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Ao lamentar a “avaliação pessimista” da Fitch, Bruno Le Maire disse acreditar que a agência de rating “subestima as consequências das reformas”, em particular a das aposentadorias. Em Estocolmo, na Suécia, onde participa de uma reunião de ministros das Finanças da União Europeia, ele citou a reforma do seguro-desemprego e das pensões.
“Acho que os fatos invalidam a avaliação da agência Fitch. Temos condições de aprovar reformas estruturais para o país”, disse ele aos jornalistas. “Temos diante de nós toda uma série de reformas que vão acelerar a transformação do modelo econômico francês”, argumentou Le Maire.
O ministro francês ainda destacou o “projeto de lei das indústrias verdes que será apresentado em alguns dias e que permitirá reindustrializar a França, abrir novas fábricas e criar novos empregos”.
“Não duvidem da nossa total determinação em restabelecer as finanças públicas da nação, em reduzir os déficits e em acelerar a redução da despesa pública”, completou.
Em um comunicado, o governo reitera a sua “a total determinação” em colocar as contas públicas em ordem nos próximos quatro anos para reduzir o déficit e a dívida.
Porém, se o governo esperava que a promulgação da reforma previdenciária tranquilizasse os mercados sobre a situação financeira do país, não foi isso que a agência Fitch apresentou em sua avaliação, em que se refere a “déficits orçamentários significativos e progressos modestos” para reduzi-los.
A agência rebaixou a nota francesa em um nível citando as fortes tensões sociais (às vezes violentas) em torno da reforma e o impasse político que constituem um risco para o programa de reformas de Macron. A atual situação também pode “criar pressão para uma política fiscal mais expansionista ou uma reversão de reformas anteriores”, escreveu a Fitch.
Crescimento menor
Depois de atingir 4,7% em 2022, o déficit público francês deverá subir ligeiramente este ano para 4,9% antes de diminuir gradualmente, a partir de 2024, antecipa o governo em seu programa de estabilidade, divulgado nos últimos dias. A Fitch, por sua vez, prevê um déficit de 5% em 2023 e de 4,7% no ano que vem.
A redução da dívida deverá sofrer um impulso, segundo o governo, representando 108,3% do PIB, em 2027, ou seja, menos 4 pontos do que o anteriormente previsto, mas ainda muito aquém do objetivo europeu de 60%. Ela estava em 111,6% do PIB, no final de 2022.
A Fitch também prevê um crescimento menos robusto da economia francesa do que o previsto em novembro: de 0,8% neste ano, contra 1,1% previsto anteriormente, e de 1,3% em 2024, contra 1,9% imaginado nas últimas previsões. Já o governo conta com um crescimento de 1% este ano.
É um golpe para a economia francesa, mas também para o governo Macron. Há seis semanas, o Executivo adotou definitivamente o projeto de reforma previdenciária que prevê o adiamento da idade legal para aposentadoria de 62 para 64 anos, utilizando o artigo 49-3 da Constituição que permite a aprovação de um texto sem votação no Parlamento.
Esta decisão levou a um endurecimento dos protestos e a vários dias de manifestações por todo o país, o que fez os franceses relembrarem o episódio dos coletes amarelos, em 2018.
O rebaixamento do rating da França para “AA-” pela agência Fitch é “uma má notícia para o governo francês” e vai contra as suas expectativas, estima Mathieu Plane, à franceinfo.
Segundo o economista e subdiretor do departamento de análise e previsão do OFCE (Observatório Francês de Conjunturas Econômicas), o governo esperava, pelo contrário, “mostrar aos mercados e a todos os investidores que tinha credibilidade no controle dos saldos orçamentários de longo prazo”, em particular graças à reforma das pensões.
Ele explica que o governo francês implementou a reforma da Previdência justamente para mostrar aos mercados e aos investidores que tinha credibilidade para controlar os saldos orçamentários de longo prazo. Plane ainda destaca que “levar em conta o clima social é algo bastante novo”.
De acordo com o analista, “é uma situação muito particular e, em última análise, a Fitch colocou um prêmio negativo nas tensões sociais”. Para o economista, “a gestão ligada à crise social coloca muitos problemas para a condução de uma política econômica que vise principalmente reajustar os déficits públicos”.
Oposição reforça a crítica
“A agência de classificação está indo na mesma direção que nós”, reagiu neste sábado à franceinfo Eric Coquerel, deputado do partido de esquerda A França Insubmissa.  
A decisão da Fitch “é mais um elemento da nossa crítica a essa reforma e à forma como o governo a está administrando”, disse.
“Que eu saiba, é a primeira vez que uma agência de classificação, que funciona como os árbitros das finanças, sanciona um governo por impasse político e movimentos sociais que colocam em risco o programa de reformas de Emmanuel Macron”.
Para Coquerel, a mensagem já vem sendo dada “há muito tempo. Esta reforma não trará muito em termos de redução do déficit e provocará a ira social e popular”, conclui.
(Com informações da AFP)

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