‘Jardineiras das florestas’: conheça o trabalho de preservação das antas no interior de SP


Projetos em São Miguel Arcanjo e Tapiraí (SP) monitoram e preservam a espécie, atualmente ameaçada de extinção. Neste Dia Mundial da Anta, conheça um pouco mais sobre este dócil e simpático mamífero. Dóceis e simpáticas, antas dispersam sementes de plantas, atividade que apelidou-as de ‘jardineiras das florestas’
Arquivo pessoal/Hiago Ermenegildo
As áreas remanescentes da mata atlântica no interior de São Paulo abrigam o maior mamífero terrestre da América do Sul: a anta. Nesta quinta-feira (27), data em que é celebrado o dia mundial da espécie, o g1 conversou com biólogos que destacaram a necessidade da conservação destes simpáticos animais, que correm risco de sumirem das florestas brasileiras.
Nos últimos 10 dias, São Miguel Arcanjo (SP) registrou duas mortes do animal. O primeiro caso ocorreu após uma anta contrair raiva de um morcego-vampiro e, no segundo caso, foi vítima de um atropelamento na Rodovia Fausto Santo Amaro (SP-250).
Ambos casos, segundo biólogos e pesquisadores, evidenciam os agravantes que contribuem para a extinção das antas no estado de São Paulo.
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Para Mariana Landis, bióloga e coordenadora do programa “Grandes Mamíferos da Serra do Mar”, as antas precisam conviver com inúmeras ameaças.
“A espécie lida com uma heterogeneidade de ameaças gigantescas: caça, perda de floresta, atropelamento, perseguição por cães domésticos, exposição a agrotóxicos. A gente está perdendo muitas antas. Toda semana recebo notícias de antas caçadas ou atropeladas. São inúmeros fatores que podem afetar a persistência delas”, ressalta.
De acordo com o biólogo do Núcleo da Floresta, Rafael Mana, as antas possuem um comportamento muito dócil, “permitindo muitas vezes a aproximação de humanos”, o que contribui para o desaparecimento da espécie.
Projetos monitoram antas no interior de São Paulo
Núcleo da Floresta/Rafael Mana
“Estudos apontam que cerca de 40% da população total de antas, se concentra no maciço da Serra do Mar em São Paulo e Paraná, muitas vezes em populações isoladas, e por isso, todos os esforços para protegê-las devem ser empregados”, explica Mana.
Preservação
Na região de Itapetininga, o Governo do Estado de São Paulo e institutos não governamentais trabalham para preservar e catalogar as antas, além de outras espécies como onças-pintadas e onças-pardas, que habitam as reservas da mata atlântica – única área que pode abrigar a espécie no estado, como destaca a pesquisadora Mariana Landis.
O “Monitora BioSP”, mantido pela Fundação Florestal, foi implementado em 6,5 milhões de quilômetros quadrados de unidades de preservação, incluindo o Parque Estadual (PE) Carlos Botelho, em São Miguel Arcanjo, e Intervales, em Ribeirão Grande (SP).
Raro registro de anta albina em parque de conservação do interior de SP
Divulgação/Monitora BioSP
De acordo com a bióloga e coordenadora do programa, Andrea Soares Pires, 400 câmeras realizam o monitoramento de mamíferos em unidades de conservação estaduais.
“[A anta] é um herbívoro com comportamento peculiar. É um animal solitário, cuja gestação dura 13 meses com apenas um filhote”, explica Andrea sobre a necessidade de preservar a espécie, que se reproduz de forma lenta.
Anta registrada por armadillhas fotográficas no interior de SP
Divulgação/Monitora BioSP
O projeto “Grandes Mamíferos da Serra do Mar” atua no monitoramento, com trabalho de coexistência entre sociedade e animais silvestres e comunicação. “Tudo tem como propósito aumentar a população desta espécie que está em extinção”, destaca Mariana.
Segundo Mariana, o projeto não governamental já catalogou 139 antas no P.E Carlos Botelho.
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Todo o esforço busca preservar e garantir a presença da espécie, que, em algumas regiões, já não é mais encontrada, mesmo onde há condições favoráveis. “Elas [as antas] têm ocupado altitudes mais altas, provavelmente porque são lugares onde as pessoas não conseguem chegar”, alerta Mariana.
Projeto não governamental monitora animais na mata atlântica em SP, incluindo a anta
Divulgação/Grandes Mamíferos da Serra do Mar/Mariana Landis
‘Jardineiras das florestas’
As antas, como destacam os pesquisadores, são essenciais para a manutenção da mata atlântica, pois espalham sementes de plantas pelas florestas – “trabalho” que deu o nome de “jardineiras” à espécie.
Segundo Andrea, pesquisadora do “Monitora BioSP”, as antas disseminam, principalmente, sementes de palmito juçara – atualmente em extinção -, jerivá e outras palmeiras.
“A anta é uma espécie chave no meio-ambiente. O desaparecimento dela pode desencadear uma perda irreparável”, finaliza Mariana Landis.
No estado de São Paulo, a anta está ameaçada de extinção
Arquivo pessoal/Eigi Iwassaki
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