‘X-Tudo’: médico que deformou pacientes em SC responde a processos em pelo menos 2 estados

Indiciado por causar danos irreversíveis a uma paciente submetida a procedimentos estéticos em Florianópolis, o médico Marcelo Evandro dos Santos responde a pelo menos outros oito processos envolvendo erros em cirurgias plásticas – e chegou a ser condenado pela Justiça em um deles. Uma paciente também morreu após passar por um procedimento realizado por Marcelo, no Paraná.

Marcelo Evandro dos Santos responde a pelo menos oito processos por erros médicos em dois estados – Foto: Redes Sociais/ Reprodução/ ND

Um levantamento do programa Domingo Espetacular, da Record TV, identificou que o profissional já sofreu sanções, inclusive, de órgãos reguladores, como o CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná).

Em 2015, ele foi advertido por assumir o risco de realizar uma cirurgia múltipla e de longa duração. À época, conforme o documento, ele não tinha registro para atuar como cirurgião plástico naquele estado.

Paciente morreu após fazer nova cirurgia com o médico

Em 2012, uma mulher, de 39 anos, foi submetida a uma cirurgia de lipoaspiração feita por Marcelo em Curitiba, no Paraná. A paciente não gostou do resultado, mas decidiu fazer uma nova intervenção com o médico. Ela apresentou um quadro de insuficiência respiratória logo no início do procedimento e morreu no mesmo dia.

Conforme identificado no levantamento dos processos, a clínica do cirurgião não tinha uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e a paciente precisou ser transferida para atendimento em um hospital – onde foi constatada a morte cerebral. O médico teria prestado auxílio financeiro à família da vítima, no entanto, teria desaparecido após ela ser enterrada.

Na condenação, Marcelo foi sentenciado a pagar indenização de R$ 100 mil para cada um dos dois filhos e ao marido da vítima – totalizando R$ 300 mil – mas, segundo a família, o valor nunca chegou a ser quitado e o processo criminal segue em aberto.

Cirurgias combinadas devem seguir recomendações específicas, segundo a SBCP – Foto: Freepik/Reprodução/ND

Procedimentos ‘X-Tudo’

Na cirurgia plástica, é comum que profissionais e pacientes decidam pelos procedimentos combinados para que mais áreas do corpo passem por intervenções, sob efeito de apenas um protocolo anestésico, o que diminui o tempo de recuperação.

Os procedimentos cirúrgicos combinados não são proibidos pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), no entanto, o profissional deve alertar o paciente sobre os riscos e ficar atento às orientações, como: não exceder o limite de retirada de gordura (até 7% do peso corporal), não ultrapassar mais que 40% da superfície do corpo e não deixar o tempo de protocolo anestésico passar de 8 horas.

A neuropsicopedagoga Letícia Mello pagou R$ 83 mil por uma cirurgia plástica combinada com Marcelo que, segundo ela, era chamada por ele de cirurgia ‘X-Tudo’. O procedimento no qual ela foi submetida incluiu 12 intervenções, durou cerca de 10 horas e retirou 7 kg de gordura.

A paciente, de Santa Catarina, perdeu os dois seios e ficou 20 dias com feridas abertas, o que resultou em cicatrizes em diferentes partes do corpo.

Neuropsicopedagoga teve lesões permanentes após cirurgia plástica – Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução/ ND

Em nota à reportagem do programa da Record TV, a defesa do cirurgião afirmou que “jamais realizou ‘8 procedimentos’” e que Letícia fez apenas três: “lipoenxertia, mamas e bodytite”. Na nota, a defesa também diz que Marcelo “jamais foi condenado em qualquer instância criminal“.

Além de Letícia, a auditora em saúde Andrea Pieper, outra paciente que fez cirurgias com o médico em SC, perdeu toda a mama esquerda e parte da direita. Ela diz que recebeu alta do hospital mesmo apresentando um quadro grave de infecção.

“Vi meu seio apodrecendo. A bactéria ‘comeu’ três camadas da pele, então afundou”, desabafa Andrea.

A defesa da auditora alega que o caso de Andrea envolveu “falhas no procedimento”. O advogado entrou com um processo no TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina) e um pedido de indenização de R$ 160,3 mil por danos morais.

“Isso aconteceu por uma série de motivos, desde uma ausência de higiene a falhas no procedimento médico realizado”, explica Alexandre Luiz da Silva.

Marcelo Evandro dos Santos também responde a outras ações, incluindo uma condenação “por danos morais, materiais e estéticos” da Justiça catarinense que fixou indenização em R$ 9.655. A defesa da vítima entrou com recurso para aumentar o valor a ser pago pelo cirurgião.

O que diz o CRM-SC

Em nota, o CRM-SC (Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina) afirma que está apurando o caso, mas que a investigação seguirá em sigilo, conforme resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina). Leia a íntegra do posicionamento abaixo:

“O Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) informa que está apurando a conduta profissional do médico citado pela reportagem, através da instauração de sindicância.

Devido à Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) n.º 2.306/2022, que exige que a investigação pelos CRMs, de qualquer caso envolvendo a atuação médica, ocorra de forma sigilosa, não será possível este Conselho fazer manifestações públicas sobre processos em tramitação envolvendo médicos”, afirma o CRM-SC, em nota.

*Com informações do Domingo Espetacular.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.