Conflito Israel-Hamas: após 10 meses no Brasil, palestino sonha voltar à Faixa de Gaza e vive angústia com notícias só pelo WhatsApp


Palestino está refugiado em Valinhos (SP), onde faz aulas de português e pretende estudar Direito. Em entrevista ao g1, relatou o que ele e familiares vivenciaram no primeiro ano da guerra. Após 8 meses no Brasil, palestino sonha voltar à Faixa de Gaza e vive angústia
Refugiado no Brasil, o cidadão palestino Naji Youssef Aldwaik, de 24 anos, teve a sua vida impactada quando, em outubro de 2023, integrantes do grupo terroristas Hamas invadiram Israel e lançaram milhares de foguetes, vitimando em território israelense 1,2 mil pessoas.
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Israel declarou guerra contra o grupo terrorista e passou a realizar ataques recorrentes ao território da Faixa de Gaza. Para se proteger dos bombardeios e da fome, milhares de civis fugiram dos territórios palestinos. Em um ano de guerra, a Palestina teve 42 mil mortos.
“Antes de 7 de outubro [de 2023], as pessoas na Faixa de Gaza trabalhavam e estudavam. Na guerra, tudo é muito difícil. As faculdades da Faixa de Gaza foram bombardeadas. [Não sobraram] nada de faculdades, [não sobraram] nada de escolas, [não sobraram] nada de hospitais. Nada” , relatou Naji ao g1.
Naji Aldwaik, em Valinhos (SP)
Aline Nascimento/g1
Naji foi um desses civis. Foram dois meses vivendo em meio ao conflito até que ele conseguiu deixar a Faixa de Gaza pelo Egito com sua família. O único que continua por lá é seu irmão, impedido de sair do país por ser policial.
“[Em Gaza], comida é muito difícil. Água é muito difícil. Energia elétrica é muito difícil. Muitas casas foram bombardeadas e todas as pessoas ficam em campos, em meio a chuva e o frio.”, explicou o refugiado.
Naji, seu pai, sua mãe, duas irmãs, duas cunhadas e seus sobrinhos chegaram ao Brasil há dez meses e se abrigaram em um projeto que acolhe refugiados em Morungaba (SP). Atualmente, o palestino vive com um casal de amigos em Valinhos (SP), e reconstrói sua vida enquanto se adapta à nova língua e cultura. Mas o sonho mesmo, é retornar à pátria de nascimento.
“Todo palestino quer e deve voltar para a palestina, porque para nós palestinos, a nossa pátria é a nossa mãe”
Vinte minutos antes da entrevista ao g1, o refugiado recebeu a notícia de que dois primos, um deles de três anos, haviam morrido na guerra. Ele contou que, além de acompanhar as notícias pela imprensa, utiliza grupos em um aplicativo de mensagens para se manter informado sobre os familiares e amigos ainda em Gaza.
“Perdi muitos amigos. Amigos de trabalho, amigos do meu convívio, muitos amigos. A maior dor da guerra são as vidas palestinas perdidas.”, relata.

O dia que mudou tudo
Antes do evento que desencadeou o conflito, que completou um ano nesta segunda-feira (7), Naji era formado em administração e trabalhava com voluntariado na Cidade de Gaza. Com o início dos bombardeiros, militares de Israel o avisaram que ele precisava se deslocar para o sul do país, já que a região em que ele estava passaria por ataques diretos.
Do apartamento onde morava, em Tel al-Hawa, bairro da parte sul de Gaza, só sobraram os escombros. Nem os gatos e cachorros que a família criava sobreviveram aos explosivos que caiam do céu. “Minha casa foi bombardeada, e não sobrou nada. [Não sobrou] vida em Gaza.”.
Veja mais: Ataque sangrento do Hamas que levou Israel a declarar guerra ao grupo terrorista em Gaza vai completar um ano
Mapa mostra região da Faixa de Gaza
Alexandre Mauro/ Arte G1
Irmão em Gaza
Montaser Youssef Al-Dweik, 48 anos, impedido de sair de Gaza por ter trabalhado como policial, vive em Gaza, longe de sua esposa e seus sonhos filho. Eles vieram para o Brasil com Naji, irmão mais novo, e estão refugiados em Morungaba.
Apesar da diferença de idade, os irmãos eram próximos. “Não falo com ele todos os dias, porque internet em Gaza é muito difícil”, conta. Durante esse ano em Gaza, Montaser precisou amputar uma das suas pernas após um ataque de míssil atingir a casa onde estava com alguns familiares.
Irmão de Naji continua vivendo em Gaza, um ano após o início do conflito Israel-Hamas.
Arquivo Pessoal
Reconstrução
Longe dos bombardeios diários na Faixa de Gaza, Naji reconstrói sua vida na casa do médico Abdel Latif, de 62 anos, e da sua esposa Jamile Abdel Latif, advogada de 58 anos, em um condomínio de Valinhos.
“Agora, eu estou bem. Eu estudo a língua portuguesa e vou à escola de português, e estudo o português [a partir] do inglês. Depois, vou para a faculdade estudar para ser advogado.”, diz Naji.
Apesar de achar um pouco difícil, Naji já consegue se comunicar e conversar em português. Além de aprender o idioma, também estuda para conseguir ingressar em um curso de graduação em direito, em um futuro próximo.
Além da sua própria família, Nali também mantém contato com amigos que se refugiaram com ele no Brasil e vivem na capital paulista. Apesar da adaptação ao Brasil, não escondeu o desejo de voltar para casa.
Naji com sua mãe e seu pai, em Morungaba.
Naji Aldwaik/Arquivo Pessoal
*Reportagem sob supervisão de João Gabriel Alvarenga
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