Laboratório de inovação aberta em Joinville une universidades e grandes empresas


Ágora.Connect tem como objetivo “criar colisões de ideias” a partir de talentos acadêmicos e demandas do mercado Um laboratório aberto de inovação (living lab) que conecta pesquisadores, professores e alunos às demandas de grandes empresas e indústrias de Santa Catarina. Com esse modelo inovador, o Ágora Tech Park, parque tecnológico de Joinville, inaugurou seu novo programa de inovação aberta Ágora.Connect, que reúne oito corporates (Whirlpool, Ciser, Krona, Avell, Unimed, Pollux, Walbert e a Pró-Rim, instituição de educação em pesquisa e saúde) e sete instituições de ensino e pesquisa (Udesc, UFSC, Univille, Católica, UniSENAI, IPT e Senac).
O objetivo do Ágora.Connect é “criar colisões” de ideias entre universidade e mercado, conectando a qualificação técnica e científica da academia aos desafios do setor produtivo, com foco no desenvolvimento de projetos de impacto, de maneira mais ágil e menos custosa. O programa aplica uma metodologia desenvolvida pelo Ágora voltada para o desenvolvimento de talentos e a criação de soluções inovadoras.
– O primeiro passo é o apoio ao desenvolvimento de talentos, com foco em questões comportamentais e no fortalecimento de soft skills. Em seguida, a jornada avança para o desenvolvimento de projetos específicos, que são o coração do processo de inovação. No Connect, não há barreiras entre o mercado e a academia – destaca Ricardo Fantinelli, diretor executivo do Ágora Tech Park.
Ao todo, são seis fases: diagnóstico e mapeamento, onde se identificam as áreas em que a inovação é necessária; construção de desafios, que define os problemas a serem resolvidos; construção de soluções, que envolve a geração de ideias inovadoras; construção de pré-projetos, uma fase crítica que requer a participação ativa de universidades e empresas desde o início, garantindo a alocação adequada de recursos e a segurança necessária para a implementação dos projetos; aprovação dos projetos, onde as propostas são avaliadas e aprovadas; e, finalmente, a execução dos projetos, onde as ideias ganham vida.
Um dos aspectos mais inspiradores do Ágora.Connect é a possibilidade de pesquisadores acadêmicos se tornarem empreendedores. Durante o lançamento do projeto, foram apresentados casos de sucesso de profissionais que conseguiram transformar suas pesquisas em startups lucrativas e inovadoras.
O professor Fernando Luciano é um desses exemplos. Graduado em Farmácia pela UFSC e com doutorado no Canadá, ele trilhou o caminho do empreendedorismo ao fundar a startup Wesen Green, voltada para o desenvolvimento de produtos que promovem a qualidade de vida para pets.
– A empresa surgiu graças à ideia da inovação aberta. Desde o início, buscamos a universidade para a validação do produto e, por meio de parcerias e recursos de fomento, conseguimos saltar de um faturamento de R$ 5 mil em outubro do ano passado para cerca de R$ 300 mil em agosto deste ano. Sem os editais e o apoio das universidades, não teríamos como colocar a empresa de pé – destacou.
Outro exemplo é a professora Katiusca Wessler, que atuou por 15 anos na academia antes de fundar a Nanobiocell Nanotecnologia, uma startup focada na produção de celulose bacteriana. A transição para o empreendedorismo foi possível graças ao apoio de programas de desenvolvimento que ajudaram a validar o potencial de mercado de suas pesquisas. Segundo ela, o surgimento de novos programas como o Ágora.Connect representam um salto de oportunidades para quem, como ela, queria empreender mas não sabia de que maneira.
– Começamos participando de programas de desenvolvimento aqui no ecossistema e entendemos que a ideia tinha potencial de mercado. Como é uma inovação que depende muito de ciência, buscamos universidades para as primeiras parcerias de pesquisa e para a incubação do projeto – recorda.
O QUE AS EMPRESAS BUSCAM COM INOVAÇÃO ABERTA
O Ágora.Connect é resultado de uma cocriação entre pesquisadores de universidades locais e heads de Inovação de grandes empresas do Norte catarinense. No final de 2023, o Ágora organizou dois workshops, um com grupo da academia e outro com representantes do mercado.
Após dinâmicas de levantamento de necessidades e possibilidades de conexão, foram criados painéis de debate para entender os desafios e soluções. Os resultados revelaram preocupações comuns como a burocracia nos processos administrativos e a necessidade de alinhar expectativas e prazos. Nos painéis de desafios, foram discutidos aspectos cruciais como a gestão, os processos e os resultados esperados de parcerias entre universidades e empresas.
– Tanto as empresas quanto as universidades enfrentam desafios ao tentar implementar a inovação. No âmbito corporativo, é necessário criar uma cultura de inovação que transcenda os departamentos de pesquisa e desenvolvimento e permeie toda a organização. Já nas universidades, é essencial buscar maneiras de agilizar a transferência de tecnologia e aproximar os acadêmicos do ambiente empresarial – reforça Fantinelli, do Ágora.
O Ágora.Connect conta com importantes players do mercado e instituições acadêmicas que se destacam por seu protagonismo no ecossistema de inovação. A multinacional Whirlpool, que possui mais de 800 profissionais dedicados à pesquisa e desenvolvimento e já registrou mais de 500 patentes, busca no living lab oportunidades de continuar expandindo sua liderança global no setor de eletrodomésticos.
Outra empresa participante, a Pollux, comprada pela Accenture em 2021, está voltada para a criação de soluções de automação e robótica industrial. A empresa espera fortalecer ainda mais suas conexões com universidades para desenvolver novas tecnologias e acelerar seus processos de inovação. A Ciser, por sua vez, tem como objetivo fomentar a cultura da inovação em áreas da empresa que tradicionalmente estão distantes dos processos criativos.
Para o Grupo Krona, referência no mercado de tubos e conexões e que inaugurou no Perini Business Park, em Joinville, uma fábrica 4.0 dedicada à inovação em produtos, a participação no Ágora.Connect tem quatro pilares de desenvolvimento: intraempreendedorismo, indústria 4.0, fomento a projetos e novos negócios (inovação aberta).
Maior ferramentaria em moldes de fundição de ferro e alumínio do país (e uma das Top5 na América Latina), a Walbert está desenvolvendo um Laboratório de Manufatura Avançada no Ágora e quer ampliar colaboração e resultados econômicos, além de avançar em projetos de automação industrial, e Inteligência Artificial aplicada à produção.
Desenvolvedora de notebooks de alto desempenho, a Avell pretende trazer novas vivências para os colaboradores, desenvolver cultura de inovação e trabalho colaborativo conectado a outras indústrias e às instituições de ensino.
Além da indústria, a inovação aberta será estratégica também para a pesquisa e desenvolvimento de soluções para saúde. A maior entidade filantrópica de nefrologia do Brasil, a Pró-Rim, atende 99% de seus pacientes via Sistema Único de Saúde (SUS) e espera, no Ágora.Connect, fomentar inovação, ampliar resultados sociais com as empresas, contribuir com políticas ESG, além de estimular a saúde preventiva de colaboradores, pesquisa clínica e científica, e educação corporativa.
A Unimed, que tem mais de 1 milhão de beneficiários em Santa Catarina, pretende desenvolver novos projetos e fontes de receita, além de qualificar as soluções oferecidas aos clientes em parceria com as demais corporates e universidades.
NOVOS HORIZONTES PARA PESQUISADORES, PROFESSORES E ALUNOS
No lado acadêmico, a Udesc, uma das principais universidades do estado, vê no Ágora.Connect a oportunidade de aumentar sua presença no setor industrial, expondo seus alunos a experiências práticas e ampliando sua participação em projetos de pesquisa com potencial de impacto direto no mercado.
A UFSC Joinville, uma das co-fundadoras do Ágora Tech Park (e com campus localizado ao lado do parque tecnológico) vai conectar seus projetos de P&D em áreas como engenharia aeroespacial, energias renováveis, materiais avançados, petróleo e gás, construção automotiva, IoT e indústria 4.0 e espera agilizar processos de transferência tecnológica e desenvolver talentos empreendedores e inovadores.
Com graduação e pós em todo o estado, a UNISENAI tem cinco clusters no Estado e, no living lab do Ágora, o foco será o desenvolvimento em áreas como robótica e manufatura avançada. Para a Univille, que conta com mais de 180 laboratórios e 127 projetos de pesquisa desenvolvidos, o Connect será um espaço para cooperação e a transformação de conhecimento científico e tecnológico em soluções sustentáveis e aplicáveis ao mercado.
Também integram o Connect a Católica SC, instituição com 51 anos de existência e que pretende fortalecer o potencial de pesquisa e ensino levando professores e alunos para desenvolverem projetos de inovação aplicada; e o SENAC, maior escola de educação para o comércio na América Latina, que irá apoiar a formação de profissionais atualizados com as oportunidades e demandas do ecossistema, além de ter acesso a novas tecnologias e ferramentas aplicáveis.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que cria e aplica soluções tecnológicas para setores da economia, governos e sociedade em apoio à superação de desafios é vinculado ao Governo do Estado de São Paulo e atua em quatro grandes áreas: pesquisa, desenvolvimento & inovação; serviços tecnológicos; serviços metrológicos; e educação em tecnologia.
– Agora temos um local ideal para descobrir os desafios e encontrar soluções para o mercado. As universidades produzem muito conhecimento, mas também precisam difundir este conhecimento e encontrar parceiros – avalia o professor Antonio Heronaldo de Souza, diretor geral da UDESC Joinville, instituição-âncora do UNI.

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