Taturana ou marandová: veja o risco das lagartas que causam 7 mil acidentes por ano no Brasil


Você sabe identificar uma lagarta venenosa de uma não venenosa? Sabe o que fazer em caso de contato com a espécie mais perigosa? Lagarta lonomia obliqua
José Felipe Batista/Comunicação Butantan
🦋 🐛 Borboletas costumam remeter a ideia de felicidade, sendo uma espécie de símbolo de vida, liberdade, beleza e transformação. Mas estes insetos, antes de chegarem neste estágio – com asas – passam pela fase de larva (lagarta) por cerca de 1 a 8 meses, dependendo da espécie. 🐛 E o contato com esses insetos nesta fase pode ser fatal, apesar de raro. Você sabe identificar uma espécie de lagarta venenosa?
A lagarta lonomia obliqua é a principal espécie causadora de acidentes no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. Ela é “espinhosa”, da família Saturniidae, e encontrada amplamente na América do Sul e na América Central, em zona urbana ou rural. No Brasil, é vista principalmente nas regiões Sudeste e Sul, sobretudo em florestas primárias, de áreas montanhosas, e entre janeiro e abril.
As lagartas da família Megalopygedae englobam as chamadas “cabeludas” e têm menos relevância médica, mas também podem provocar queimaduras, como ocorreu com Sandra Annenberg em 2023.
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A apresentadora postou um vídeo do inseto da espécie Podalia orsilochus, ou lagarta-cachorrinho, com a legenda: “Alguém sabe que bicho é esse? Pisei nele e meu pé está pegando fogo! Uma dor insuportável! Socorro!”. Sandra depois contou ter procurado atendimento médico para controlar o desconforto, mas não precisou receber soro antilonômico, porque as lagartas cabeludas podem até machucar, mas não demandam tratamento com soro. Na ocasião, Sandra comentou que jamais imaginou que “a taturana pudesse ser um bicho tão perigoso” e pediu para as pessoas não matarem os animais.
Os casos de envenenamentos costumam aumentar com o desmatamento, que faz a população de lagartas migrar para áreas urbanas, especialmente pomares. E a lonomia obliqua (mais perigosa) é encontrada em árvores frutíferas comuns, como goiabeira, nespereira, abacateiro e outras.
O envenenamento provocado pelo contato com as cerdas dessa espécie pode provocar dermatite urticante – sensação de queimação – dor, inchaço, cefaleia, mal-estar, náuseas, vômitos, ansiedade, dor muscular, dor abdominal, hipotermia (sensação de frio) e hipotensão (pressão baixa).
⚠️A gravidade dos casos tem ligação com a espécie envolvida, a quantidade de lagartas esmagadas durante o contato, a extensão da área afetada, a profundidade da lesão, a quantidade de toxina e a condição física da vítima.
🏥Casos graves podem evoluir para síndrome hemorrágica grave, caracterizada por alteração na coagulação, equimose (manchas), injúria renal aguda (IRA) e hemorragia generalizada, levando à morte – se o paciente não for tratado rapidamente. O tratamento é o recebimento a tempo do soro antilonômico e a dose depende da gravidade e é definida a partir da intensidade dos sintomas e sinais clínicos.
O soro antilonômico é produzido exclusivamente pelo Instituto Butantan e enviado ao Ministério da Saúde, que distribui o medicamento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Caso sofra um acidente, jamais tente capturar a lagarta. Se for possível, é recomendado fotografar o animal, o que ajudar a agilizar o diagnóstico e, consequentemente, a aplicação do soro.
⚠️🌳 🌿Os acidentes com lagartas normalmente ocorrem quando o indivíduo toca o animal, geralmente em tronco de árvores, ou ao manusear a vegetação.
Dicas para prevenir acidentes com lagartas, de acordo com o Instituto Butantan:
Nunca toque na lagarta;
Nunca tente remover das lagartas de onde elas estiverem. Se for preciso, chame o controle de Zoonoses;
Preste atenção ao encostar ou se apoiar em troncos de árvores, principalmente ao andar na mata;
Use luvas ao trabalhar na lavoura, colher frutas ou manusear folhas e gravetos.
Se acontecer um acidente, o que fazer?
Lave bem o local
Faça compressa fria com água ou gelo
Não coloque sobre a lesão nenhum produto químico ou orgânico
Procure o serviço de saúde mais próximo
“As pessoas mais vulneráveis, em geral são as crianças, que têm uma percepção menor do potencial risco de animais. E, em algumas situações, o fato de as crianças terem uma biomassa menor, isso também pode levar a um agravamento em um eventual envenenamento”, alerta o doutor em Zoologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande Daniel Loebmann.
🚨 ➕ Em 2008, no Canadá, uma jovem de 22 anos, procurou um hospital sete dias após ter pisado descalça em cinco lagartas durante viagem ao Peru. Imediatamente, ela sentiu dor e queimação no pé, que irradiou para a coxa e a dor piorou quando ela andou. A jovem também sentiu dor de cabeça e no pé, que desapareceram nas 12 horas subsequentes e ela não procurou atendimento médico. Uma semana após pisar nas lagartas, a paciente apresentava manchas roxas na pele e sinais de coagulação, quando procurou atendimento médico.
Ela recebeu o soro em 48 horas, no décimo dia depois do envenenamento (terceiro dia de internação). Mas o quadro da jovem já havia progredido para hemorragia pulmonar, lesão renal aguda e coagulação intravascular, levando à falência de múltiplos órgãos.
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Números de casos de acidentes no Brasil
Em 2023, foram registradas mais de 340 mil notificações de acidentes com animais peçonhentos e 451 casos levaram a mortes no Brasil. Os envenenamentos por lagartas são os menos comuns e que menos causam óbitos (4 em 2023) – mas costumam ser desconhecidos pela população.
🦂 🐍 Os casos de acidentes com escorpiões lideram o ranking de registros e de mortes, seguidos dos casos com serpentes. 🐝 E os óbitos por acidentes com abelhas quase que duplicaram no período. Confira abaixo os números:
Total de notificações com animais peçonhentos em 2023, de acordo com o Ministério da Saúde:
🦂 Escorpião: 195.645
🕷️Aranhas: 73.119
🐝Abelha: 32.875
🐍 Serpentes: 31.725
🐛 Lagarta: 6.906
Total de mortes com animais peçonhentos em 2023, de acordo com o Ministério da Saúde:
🦂 Escorpião: 152
🐍 Serpentes: 138
🐝Abelha: 123
🕷️ Aranha: 34
🐛 Lagarta: 4
🐛Total de notificações de acidentes com lagartas de 2019 a 2023:
2019: 6.092
2020: 4.251
2021: 4.223
2022: 5.144
2023: 6.906
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