Jovem LGBTQIA+ sai da periferia, une capoeira e vogue, visita 40 países e vira referência na dança: ‘Foi a porta para eu me conhecer’


No Dia Internacional da Dança, g1 contra a história de Puma Camille, artista trans de Campinas que ganhou o mundo juntando as duas modalidades. Ela criou projeto para inserir outros jovens neste universo. Puma Camillê uniu vogue e capoeira e se torçou referência na dança
Na busca pelo encontro com si mesma, Puma Camillê, de 29 anos, descobriu, na união que ela própria criou entre a capoeira e o estilo de dança conhecido como vogue, uma ferramenta de transformação e acesso. O resultado foi a ascensão ao mundo da jovem criada na periferia de Campinas (SP), que se tornou uma referência na área e já visitou 40 países.
No Dia Internacional da Dança, comemorado neste sábado (29), o g1 conta a história da artista trans multidisciplinar, que foi criada no São Bernardo, tradicional bairro de periferia da metrópole, e atingiu o sucesso ao juntar os dois estilos [veja o resultado da união no vídeo acima]. Além do prestígio, a influência dela no segmento também a fez criar um projeto que transforma vidas junto à comunidade LGBTQIA+ em três cidades do Brasil.
“A dança foi a porta, a chave para eu me conhecer. Ela me permitiu explorar sentimentos íntimos dentro de mim que eu não sabia dar forma, nome. Foi a cura”, disse a artista.
Puma Camillê, artista trans que se tornou referência na dança
Caio Oviedo
A primeira ferramenta de transformação de Puma por meio da dança, segundo ela, é a capoeira. A atividade permitiu o reconhecimento de suas raízes negras e possibilitou o primeiro acesso ao mundo. Foi com ela que a artista viajou o mundo para ensinar e praticar a modalidade.
“Esse acesso me permitiu ver o mundo com uma amplitude um pouco maior, mas eu não via nenhuma pessoa LGBT na capoeira. Eu não tinha referência nenhuma de travesti dentro da capoeira, nem na minha vida, nem na igreja, na família, em lugar nenhum, só na rua, sendo prostituta, e eu sabia que não era aquele lugar que eu queria”, relembrou.
A partir daí, ela passa, então, a desconstruir a ideia de que precisava estar em um grupo tradicional e começa a ensinar capoeira para pessoas em situação de rua e LGBTQIA+. “Pessoas que não estão na capoeira porque os grupos não querem elas dentro da capoeira”, completou.
Puma Camillê uniu capoeira e vogue
Maria Buzanovsky
Encontro com o vogue
A ruptura com a capoeira tradicional a fez encontrar, em 2016, o vogue, um estilo de dança moderno que se caracteriza por posições e modelos corporais marcados por poses, que ganhou notoriedade nos anos 90, nos Estados Unidos, com a música homônima de Madonna, ícone do pop, e se tornou um movimento de afirmação de identidade de gêneros e sexualidade.
Na mesma época, Puma teve o primeiro contato com a comunidade Ballroom , um movimento político que celebra a diversidade, e começou a explorar o vogue. “Quando eu vejo os saltos, os giros, as quedas, eu me identifico na hora com essa linguagem, parecia uma capoeira travesti, parecia que eu já conhecia aquilo e eu sabia que meu corpo sabia aquilo também”, explicou.
Depois disso, a artista se reconectou com a sua essência e se descobriu uma mulher trans a partir da simbiose dos dois estilos de dança.
“A dança me dá acesso um lugar tão, tão único dentro de mim, tão singular, tão subjetivo, que isso passa a adentrar a minha existência sem eu precisar performar”, pontuou.
O projeto
Já estabilizada na área, após diversas experiências e com a “sustentabilidade, estratégia e a malandragem da capoeira” com a “potência, a audácia e a coragem do vogue”, Puma decidiu criar, em 2020, um espaço de experimentação juntamente com Quantik e Jhordan Lunarte, dois de seus alunos e agora professores.
O projeto “Capoeira para todes”, nascido em meio à pandemia da Covid-19, deu espaço ao público LGBTQIA+ com aulas, performances e rodas de vogue e capoeira gratuitas, na Praça José Roberto de Paula, no bairro São Bernardo.
“O projeto é um braço de rio conectando outros rios que de alguma forma se sentem fracos e desestabilizados, e que quando se encontram, são uma coisa só, além de uma forma de cura para todes”, afirmou.
Com a força e a popularidade do grupo, os encontros passaram a ser promovidos na Estação Cultura, em Campinas, de forma gratuita. Atualmente, a atividade conta com 100 participantes na cidade, além de núcleos em São Paulo e Salvador (BA).
Atualmente, o grupo faz apresentações em todo o Brasil e busca ser uma ferramenta de reconexão e acesso, empregando pessoas LGBTQIA+, além de ressignificar o papel delas na sociedade.
Projeto de Campinas insere comunidade LGBT na dança
Caio Oviedo
*sob a supervisão de Marcello Carvalho
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