Grande Recife tem histórico de prédios interditados por risco de desabamento; confira

Pelo menos nove casos já foram registrados pela TV Globo desde a década de 1990. Edifício Leme desabou parcialmente na noite da quinta (27), em Jardim Atlântico. Procurador-geral de Olinda diz que seguradoras devem demolir prédios interditados
A ocupação de prédios interditados por risco de desabamento – como o Edifício Leme, que desabou na noite da quinta (27), em Olinda – é uma realidade presente há mais de 20 anos no Grande Recife. Desde o fim da década de 1990, a TV Globo registrou, ao menos, nove casos de desmoronamentos (confira abaixo).
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Oito dos 16 apartamentos do residencial, localizado na Rua Acapulco, no bairro de Jardim Atlântico, desabaram por volta das 22h da quinta. Moradores contaram que, primeiro, ouviram um estrondo. Depois, o edifício pegou fogo. Cinco pessoas morreram e outras cinco ficaram feridas.
O prédio estava interditado desde 2000, segundo a prefeitura de Olinda. O g1 teve acesso ao trecho de um laudo apontando “sérios problemas que comprometem a segurança do edifício”. Entre eles, foi constatado acúmulo de água dentro do imóvel.
O procurador-geral do município, Rafael Carneiro Leão, disse, em entrevista à TV Globo, que busca na Justiça obrigar as seguradoras dos edifícios a demolir as construções com risco de desabar (veja vídeo acima).
“A resolução desse problema passa, necessariamente, pela demolição. E é por isso que Olinda vem dando todos os esforços, adotando diversas medidas judiciais, com vistas a obrigar a seguradora responsável não apenas a guardar e conservar, porque não é suficiente, mas a demolir os edifícios condenados”, afirmou o procurador-geral.
Carneiro Leão disse ainda que o município já moveu ações para garantir a demolição de outras edificações localizadas na cidade. Entre elas, uma decisão judicial, que não foi cumprida, referente ao Edifício Marquês de Felipe.
Procurada, a Caixa Seguradora disse, por meio de nota, que presta solidariedade às famílias e que está está adotando as medidas necessárias para atendimento e suporte aos envolvidos.
A empresa informou ainda que apura eventuais responsabilidades, mas não respondeu sobre a demora para cumprir o que foi determinado pela Justiça.
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Histórico de desabamentos
🚩 Em maio de 1997, moradores do Edifício Aquarela, no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, foram surpreendidos quando parte do prédio afundou. Todos os 16 apartamentos foram desocupados e não houve vítimas. A estrutura foi condenada e o edifício precisou ser demolido.
🚩 Em novembro de 1999, quatro dos oito apartamentos do Edifício Éricka, no bairro de Jardim Fragoso, em Olinda, desabaram. Quatro pessoas morreram. A estrutura que restou foi condenada pela Defesa Civil. Dois dias depois, começou a demolição do restante do imóvel.
🚩 Um mês depois, outro desabamento em Jardim Fragoso. Dessa vez, o Bloco B do conjunto Enseada de Serrambi. Dezessete pessoas estavam no edifício. Seis morreram.
🚩 Em junho de 2001, metade do edifício Ijuí desmoronou, em Piedade, Jaboatão. Os moradores não foram atingidos porque abandonaram o local quando ouviram estalos.
🚩 Em outubro de 2004, também em Piedade, outro edifício, o Areia Branca, veio abaixo, culminando na morte de quatro pessoas. Horas antes do desabamento, moradores relataram ter ouvido estalos e saíram do prédio.
🚩 No mês de agosto de 2014, o Edifício Emílio Santos desabou parcialmente. O prédio ficava no bairro de Boa Viagem, no Recife. Ninguém se feriu. O edifício havia sido condenado pela Defesa Civil e desocupado no ano anterior.
🚩 Em agosto de 2017, no bairro de Jardim Fragoso, em Olinda, mais um desabamento. Parte do Edifício Agave veio abaixo. A estrutura do prédio ficou inclinada.
Na época, a Defesa Civil da cidade encaminhou um pedido de demolição emergencial do imóvel para a Procuradoria-Geral do município. Nada foi feito. Duas semanas depois, outra parte do edifício desabou, mas ninguém se feriu.
🚩 Em dezembro de 2020, no bairro do Janga, em Paulista, parte de um edifício tipo ”caixão” desabou sem deixar vítimas. O prédio havia sido interditado dias antes.
🚩 Em junho de 2022, um susto na Iputinga. Parte de um prédio abandonado de três andares desabou. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento. Ninguém ficou ferido.
Ministério Público divulgou nota
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) divulgou nota na tarde desta sexta (28), na qual presta solidariedade às vítimas e se coloca à disposição para os encaminhamentos necessários.
No texto, o MPPE diz que:
➡️ Tem atuado nos desdobramentos da tragédia, para a apuração dos fatos e “responsabilização dos implicados” e em relação às medidas emergenciais aos sobreviventes;
➡️ O Edifício Leme foi interditado pela prefeitura de Olinda em 15 de março de 2001, “com a determinação de desocupação dos imóveis pelos moradores originários”;
➡️ A interdição levou o MPPE a ajuizar a Ação Civil Pública protocolada sob o número 0012541-89.2002.8.17.0990, pela qual a Justiça determinou que os demandados assumissem os custos com despesas de moradia para os proprietários dos apartamentos e realizassem a guarda e a manutenção edifício até a finalização do processo;
➡️ Tem atuado para que os moradores originários sejam indenizados, cabendo à seguradora a responsabilidade de guardar e conservar o imóvel e também desocupar as unidades habitacionais, se fosse necessário.
O Ministério Público de Pernambuco ressalta que a cidade de Olinda possui a maior densidade demográfica do Estado e a quinta do país, com grande demanda por habitação, e lembra que metade da população do município reside em áreas de morro (áreas de risco), “com vários prédios do tipo caixão, desocupados, em situação de risco, que são ocupados pela população por falta de opção de moradia”.
O MPPE diz ainda que tem trabalhado para auxiliar no enfrentamento da questão, atuando junto ao Município de Olinda com ações de recomendação para a “estruturação do Sistema Municipal de Habitação de Interesse Social, a revisão do Plano Local de Habitação de Interesse Social, a implementação do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social e o seu Conselho Gestor”.
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