Gerente de restaurante denuncia ‘conduta de delegado’ em caso de turista carioca que foi liberada após ocorrência por injúria racial


Vítima questiona Polícia Civil porque delegado ouviu a suspeita e entendeu que não cabia uma prisão em flagrante. Corregedoria da Polícia Civil da Bahia
Reprodução/ TV Bahia
A gerente de um restaurante do Centro Histórico de Salvador, que relatou ter sido vítima de injúria racial enquanto trabalhava, denunciou à Corregedoria da Polícia Civil a conduta do delegado responsável pela investigação do caso e registro do boletim de ocorrência.
TIRA DÚVIDAS: Crime de racismo ou injúria racial cabe prisão em flagrante?
A situação aconteceu no domingo (23), no Pelourinho, e a suspeita de ter cometido o crime é uma turista carioca, que não teve nome divulgado. Assim que houve o insulto de injúria racial, a gerente acionou a Polícia Militar, que levou as duas e testemunhas para a delegacia. (Veja detalhes abaixo)
Na unidade policial dos Barris, a turista foi ouvida e liberada. A atitude do delegado, em liberar a suspeita sem registrar a prisão em flagrante, despertou na gerente do restaurante a sensação de impunidade pelo crime de injúria racial.
“A sensação é de impunidade, porque ele [delegado] ouviu [o depoimento] e nada foi feito”.
Vítima de injúria racial no Pelourinho entra com ação na Corregedoria da Polícia Civil
Segundo Adriana Santiago, o delegado esteve no local de trabalho dela, na quarta-feira (26), depois da repercussão do caso, para pedir imagens de câmeras de vigilância.
“Eu não entendi o porquê de ele estar me procurando, se era para tudo ser feito no dia que aconteceu. Ontem [quarta, 26] eu não estava trabalhando, estava de folga, e me ligaram informando que ele estava no estabelecimento. Ele quer as câmeras do local, e eu disse para ele que não tinha nada para falar naquele momento. Disse que eu acharia que ele deveria ter falado comigo, ter realmente feito alguma coisa no dia, e que ele se reportasse a quem está me representando”.
Delegacia dos Barris / Complexo Policial dos Barris
Reprodução/Redes Sociais
Adriana e a advogada que a representa registraram a denúncia referente à conduta do delegado na Corregedoria na quarta-feira. O principal objetivo é fazer com que o inquérito avance, mesmo que a turista tenha sido liberada sem a prisão em flagrante.
“Ela [advogada] entrou com essa petição para dar encaminhamento, porque ela [turista] tem que pagar pelo que fez. Não é sair da nossa cidade e achar que a gente, preto, pode ser tratado como qualquer coisa, e sair como ela saiu. E eu falo isso por mim, pelos meus e é difícil. Me calar, eu não vou. Parar, eu não vou”, argumentou Adriana.
Caso
Gerente de restaurante do Centro de Salvador denuncia turista por injúria racial
Reprodução/TV Bahia
O caso aconteceu no restaurante em que Adriana é gerente há um ano e meio. Um casal de turistas pediu a presença dela para fazer uma reclamação sobre o azeite.
“Eu fui atender a solicitação deles e após conversarmos, voltei ao caixa, porque era folga da funcionária no domingo”, contou.
Adriana disse que ao perceber que ela sentou na cadeira do caixa, a mulher se levantou e cometeu o ato de injúria racial.
“Falou assim para mim: ‘Eu sabia que você tinha me enganado, que você não era gerente coisa nenhuma. Preta desse jeito você não poderia ser gerente, você teria que ser caixa mesmo’”.
A gerente não entrou em discussão com a turista e procurou uma base da Polícia Militar, instalada próxima ao restaurante, para fazer o registro do caso.
“Eles não queriam ir no primeiro momento, porque disseram que ia estragar o passeio deles. A subtenente disse que íamos todos sermos conduzidos para a 1ª Delegacia, onde a gente prestou depoimento e foi todo mundo liberado”, relatou.
Em janeiro deste ano, o crime de injúria racial (ofensa por raça, cor, etnia, religião ou origem) foi equiparado ao de racismo. Com isso, o crime se tornou inafiançável, sem prescrição, além de ter pena de reclusão e multa.
Lembrar do fato ainda causa tristeza para Adriana Santiago. “Eu não consigo nem falar muito, porque vem aquela imagem toda. É difícil para a gente, preto, passar por isso, pela religião e cor da pele”. Apesar da dor, a baiana afirma que não vai desistir de buscar justiça.
“Isso tudo, às vezes no final das contas, não dá em nada. Eu vou até o fim, porque gente preta merece estar em qualquer lugar,”, afirmou a gerente.
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