Alunos compram todos os lanches de vendedor após escola proibir comércio na porta da instituição: ‘não tenho palavras’


Mobilização de estudantes de Bragança viralizou e, agora, Ademilson Santos, aumenta vendas e sonha em adquirir novo transporte para continuar vendas de lanches. Ademilson vende lanche desde os 12 anos em Bragança, no Pará
Reprodução
O vendedor de salgados, Ademilson Santos, morador da cidade de Bragança, nordeste do Pará, passou a receber encomendas após ter sido proibido de comercializar o produto em frente à Escola Estadual Luiz Paulino Mártires (Lupama), localizada no bairro do Taíra. Em entrevista ao g1, Ademilson conta que não parou de trabalhar e que tem recebido apoio de populares.
Estudantes da Lupama registraram o momento em que se reuniram para comprar os salgados e sucos do “tio Ademilson”. A ação foi uma forma de ir contra a proibição da gestora da instituição de ensino.
A proibição ocorreu após a cantina da escola ser “prejudicada” pelos lanches de Ademilson. O vendedor vende um salgado e um suco a R$ 4 e o lanche mais barato na cantina custa R$ 6.
Ele conta que chegou a conversar com a escola e informar que depende exclusivamente da venda dos salgados. Porém, em março, foram colocados cones próximo ao portão de entrada e saída dos alunos para impedir que se aproximassem da bicicleta com os lanches de Ademilson.
As imagens dos estudantes comprando os lanches viralizaram. O autônomo conta que nesse momento viu o cuidado dos estudantes com ele. “Normalmente, eles compram o lanche e vão embora, mas dessa vez, não, eles falavam ‘o tio ainda tem lanche vamos fazer uma vaquinha para comprar'”.
Estudantes se unem para comprar todos os lanches de Ademilson, após proibição de venda em frente à escola em Bragança, no Pará
Reprodução
Ademilson conta o que tem acontecido após a viralização da atitude dos adolescentes.
“Não tenho palavras para descrever o momento bom que vivi. Fiquei surpreendido. Vi eles do meu lado e falaram ‘tio, a gente tá contigo, a gente sabe a pessoa que o senhor é, a família que o senhor tem’ e aquilo me tocou muito”, conta o autônomo à repórter Mônica Chagas em entrevista ao quadro “O que te faz bem?”, da TV Liberal, que teve como tema a empatia.
O Que Te Faz Bem: Quadro fala sobre a importância da empatia no dia a dia
Ele conta que depois da situação, que o deixou triste em um primeiro momento, passou a receber apoio das pessoas, mesmo que seja através de uma publicação do trabalho dele na rede social. Porém, há pessoas que se aproveitam para “brincar”.
“Depois dessa situação que foi bastante comentada, há pessoas que falam de maneira dura comigo. Quando passo na rua tem gente que grita ‘Pedala, filha da diretora’, ao mesmo tempo que tem gente que me encoraja a continuar na venda. Eu sou muito brincalhão e tem gente que brinca, mas a gente percebe quando as pessoas falam para tentar ferir a gente”.
Após conversa com a escola, Ademilson voltou a vender em frente ao estabelecimento de ensino.
O g1 solicitou esclarecimentos sobre ocorrido à instituição de ensino, mas até o fechamento desta reportagem, não recebeu retorno.
A Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc) informou que “a unidade já oferece refeição escolar gratuita aos estudantes, e que a compra de lanches é apenas uma opção para comunidade escolar” e que “após uma reunião com o conselho escolar, o vendedor foi autorizado a comercializar os produtos na área externa da escola”. Sobre a motivação da proibição, a Seduc não se pronunciou.
Rotina começa na madrugada
Ademilson acorda todos os dias às 3h30 para produzir os salgados
Para vender os 100 salgados diariamente, Ademilson acorda às 3h30 junto com a esposa para começar a produzir os alimentos, de segunda a sexta-feira.
A venda dele depende de outros trabalhadores, como trabalhadores de canteiros de obras, e também de estudantes. E para garantir as vendas, precisa sair todos os dias às 7h para levar os lanches até os consumidores.
Muitas vezes ele vende “fiado” para não perder o cliente ou a um preço mais barato.
“Alguns alunos, por exemplo, não têm como pagar naquele momento. Eu faço fiado e eles me pagam depois, ou faço pela metade do preço”, conta Ademilson.
Ademilson produz cerca de 100 salgados diariamente
Reprodução
De volta mais ou menos 10h30, Ademilson utiliza parte do dinheiro da venda do dia para comprar o material do dia seguinte.
A esposa de Ademilson fica em casa cuidando da filha de três anos do casal, mas procura por uma oportunidade no mercado de trabalho.
O autônomo conta que tem dois sonhos: de ter um transporte melhor para transportar os alimentos e adquirir a casa própria. Atualmente, ele, a esposa e o filho moram
“Um dia quando tiver um transporte melhor, não vou me desfazer da minha ‘cargueira’ porque ela me ajudou bastante. Vou pendurá-la para todas as vezes que olhar para ela, lembrar. Quando meu filho estiver maior, vou falar para ele que ela sustentou a nossa casa, a nossa família e pagou nossas contas”.
Assista a outras notícias do Pará:

Adicionar aos favoritos o Link permanente.