Inseguro, possessivo e insensível: Ministério Público do ES detalha perfil de agressores de mulheres


Para prevenir casos de violência contra a mulher, o órgão traçou o perfil psicológico de potenciais agressores para que mulheres consigam identificar gatilhos desde o início do relacionamento. 62 mulheres são agredidas por dia no ES, aponta Sesp
O número de denúncias de violência doméstica aumentou no Espírito Santo. Por dia, são mais de 60 registros nas delegacias. Em alguns casos, as vítimas não percebem que estão em um relacionamento abusivo. Para prevenir casos desse tipo, o Ministério Público estadual (MPES) traçou o perfil psicológico de potenciais agressores para que mulheres consigam identificar gatilhos que possam desencadear agressões.
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Cristiane Esteves Soares, coordenadora do Núcleo de Enfrentamento às Violências de Gênero em Defesa dos Direitos das Mulheres (Nevid), disse que as vítimas de violência costumam ter entre 20 e 40 anos, entretanto, é fundamental traçar o perfil de personalidade do agressor uma vez que o perfil da vítima não pode ser detalhado. Isso porque todas as mulheres podem se tornar uma vítima.
“O perfil de personalidade da vítima a gente não pode identificar, ou seja, toda mulher pode ser vítima de violência doméstica. Identificando esse perfil [do potencial agressor] é possível que a gente consiga já no início analisar isso, sair da relação e evitar uma violência maior”, disse Cristiane.
Entre os pontos de alerta citados pelo MPES sobre o perfil dos possíveis agressores e que merecem atenção das mulheres estão:
Em geral, o potencial agressor tem autoestima baixa;
É sensível a críticas;
São possessivos e inseguros;
Tendem a manipular a companheira;
Segundo o MPES, até mesmo o excesso de proteção pode resultar no afastamento da mulher de amigos e parentes.
Cristiane Esteves também falou sobre a importância de as mulheres não se afastarem de amigos e familiares.
“Se ela não tem essa rede primária de proteção e constantemente é agredida na sua autoestima e na maneira de ser e viver, no momento de uma situação mais séria de violência ela começa a se sentir culpada e achando que ela foi a responsável por aquele ato de violência e realmente poderia ter sido punida com a agressão”, alertou a coordenadora do Nevid.
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Mais de 60 casos de violência doméstica são registrados por dia no ES
De janeiro a março de 2023, 5.577 registros de violência contra a mulher foram feitos no Espírito Santo. No mesmo período do ano passado foram 5.638 registros. Os dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) também mostram que a média de casos é de 61 mulheres agredidas por dia no estado este ano.
Mulher espancada pelo companheiro com pau e até cerâmica em Vila Nova de Colares, na Serra, ES.
Reprodução/TV Gazeta
Segundo o levantamento da Sesp, em todas as cidades da Grande vitória houve aumento da violência contra a mulher nos três primeiros meses deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado.
Na Serra, uma mulher teve os dedos quebrados e o rosto machucado ao ser espancada pelo namorado que conheceu pela internet. O suspeito usou uma vassoura e um pedaço de pau para atacar a vítima, na madrugada do último sábado (1). O casal decidiu morar junto com pouco mais de um mês de relacionamento. A mulher contou que as agressões foram motivadas por ciúmes.
“Os primeiros dias foram sim muito tranquilos. Eu estava bem feliz, inclusive. Estava me sentindo realizada. Achei que ele era o homem da minha vida. Mas, depois da primeira discussão que a gente teve e ele me agrediu, aí que foi um inferno. Porque todas as vezes que eu tentei sair do relacionamento ele nunca permitiu”, falou a mulher na ocasião.
No domingo (2), em Cariacica, uma grávida de oito meses foi agredida com uma cadeira pelo marido e precisou procurar atendimento médico no dia seguinte porque passou mal. A vítima contou que disse durante as agressões quase teve a barriga atingida pelo suspeito.
Jovem de 19 anos agredida pelo marido em Cariacica, ES, segura o filho mais velho de dois anos.
Reprodução/TV Gazeta
Michelle Meira, gerente de Proteção à Mulher da Sesp disse que mesmo com o aumento de registros, o número de vítimas de violência doméstica no estado pode ser ainda maior.
“Apesar dos números estarem crescentes, a gente ainda tem uma subnotificação gigantesca desse tipo de delito. Então, o aumento do número, traz pra gente as mulheres estão enxergando as políticas públicas com bons olhos, acreditando que podem confiar no trabalho que está sendo feito e procurando registrar o boletim de ocorrência pra se ver livre do ciclo de violência”, disse Michele Meira.
Vítimas são atendidas em delegacias especializadas e nas regionais
Atualmente, vítimas de violência são atendidas em 13 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams), das 8 às 18h, nas cidades de Vitória, Aracruz, Cariacica, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, Guarapari, Linhares, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Venda Nova do Imigrante, Viana e Vila Velha.
Delegacia do Plantão Especializado da Mulher (PEM), em Vitória.
Reprodução/Polícia Civil
Durante àa noite e aos domingos e feriados, o atendimento é feito as Delegacias Regionais e, no caso da Grande Vitória, no Plantão Especializado da Mulher (PEM), em Vitória, única unidade especializada para mulheres que funciona 24 horas atualmente.
Um projeto do Governo do estado prevê que as vítimas sejam atendidas em espaços especializados chamados “Salas Marias”, que ficarão abertos 24 horas por dia nas 18 delegacias regionais da Polícia Civil no Espírito Santo. A previsão é que o projeto piloto das salas especializadas comece pela cidade de Cariacica, na Grande Vitória, ainda sem data prevista.
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