Obras inéditas de Câmara Cascudo são encontradas

Nove obras do intelectual potiguar Câmara Cascudo, sendo algumas já reconhecidas inéditas, foram encontradas em sua biblioteca particular no Ludovicus – Instituto Câmara Cascudo. Folclorista morreu há 37 anos e deixou vasta obra literária que agora pode ser estendida. A descoberta veio a partir de um processo de digitalização de documentos do acervo que ocorre desde 2016, localizando fragmentos de livros que podem gerar publicações futuras. Todo material será submetido a uma criteriosa análise.

A descoberta foi feita por Woldney Ribeiro de Souza, restaurador de livros e responsável técnico pela manutenção e organização do acervo bibliográfico, documental e museológico do Instituto Câmara Cascudo. Após o término do projeto de digitalização e acondicionamento de 15 mil correspondências, em 2016 houve uma pré-seleção de outros 20 mil documentos que restavam no acervo. Entre eles, recortes de jornais, originais datilografados, manuscritos, anotações, materiais de pesquisas, fotografias, cadernetas de anotações, com vistas a novas digitalizações.

Durante a pandemia, como fechamento temporário da instituição, o trabalho foi interrompido e retomado somente no início de 2023, resultando em nove obras totalmente íntegras: (1) Caveira no campo de trigo e outros poemas inúteis (2) Buda é santo católico? (3) Olhando John Bull… (4) No quotidiano brasileiro (5) História antiga do Ceará-Mirim (6) História da literatura norte-rio-grandense (1832-1912) (7) Ruas da Cidade do Natal (8) Livro de Linhagem (9) Índice dos Capitães-Mores e Governadores do Rio Grande do Norte. “O nosso responsável pelo acervo começou a encontrar fragmentos de livros, um pedaço de um livro aqui, as outras páginas de um outro lá, misturados com outros documentos e começamos a juntar tudo isso em um quebra cabeça para chegar à conclusão se o livro estava integro”, explicou Daliana Cascudo, neta do folclorista, responsável pelo Instituto.

Material de Câmara Cascudo será analisado

O material será submetido a uma curadoria para análise, revisão e confronto com obras já publicadas de Cascudo para confirmação de ineditismo, antes de futuras publicações. Daliana acredita que a maioria desses livros seja única, porque as obras “Buda é santo católico?” e “Caveira no campo de trigo e outros poemas inúteis” são citadas por Cascudo em carta para Mário de Andrade em 1926. Sobre “História antiga do Ceará-Mirim” e “História da literatura norte-rio-grandense (1832-1912)” já há certeza do ineditismo por nunca terem sido publicadas.

De acordo com a neta de Cascudo, o processo de análise não demorará tanto quanto o processo de digitalização e separação dos documentos. “Vamos ter que fazer uma análise verificando toda a obra dele com o que foi achado agora de inédito, para ver se realmente algum desses textos não foi publicado com esse nome, mas com outro nome, há a possibilidade, então é isso que temos que fazer agora de uma forma cuidadosa antes de publicar as obras”, explicou.

Resgate da história do RN

Muitas dos textos são resgate da própria história potiguar, como por exemplo, “História antiga do Ceará-Mirim”, que retrata um município muito importante do RN, ou até mesmo “Histó- ria da literatura norte-rio-grandense”, que aborda uma fase inicial da literatura potiguar. “Ele nunca escreveu nem publicou nada de poesia, mandava para os amigos, como Mário de Andrade, mas uma publicação não tem, então para nós é outra faceta dele que aparece, achávamos que havia abarcado tudo, mas ele nos mostra que tem mais coisas. Para a gente é muito instigante, um trabalho contínuo de descobertas, uma riqueza para a cultura potiguar”, ressaltou Daliana

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