Jogadores brasileiros que atuavam em times de futebol no Sudão chegam a SP após duas semanas de conflito


Eles conseguiram sair do Sudão depois de confrontos que já mataram mais de 500 pessoas. Fumaça na capital do Sudão, Cartum
AP Photo/Marwan Ali
Um grupo de brasileiros que atuam em times de futebol do Sudão desembarcou na manhã desta quinta-feira (27) no Aeroporto Internacional de Guarulhos. O voo com os jogadores, que partiu de Doha, no Catar, pousou em Cumbica no fim da manhã.
O trio fugiu de confrontos que explodiram no país em 15 de abril. Alex, Joilson e Matheuzinho foram recebidos por familiares que os aguardam no aeroporto.
Este é o segundo grupo de brasileiros que jogam no país a deixar o Sudão. Antes, outros atletas tiveram que atravessar a fronteira com o Egito para conseguir voltar ao Brasil. Eles afirmam não ter recebido auxílio do Itamaraty.
“Todos organizados e já fechados com outras embaixadas. E a gente, está com quem? Só dizem que estão tentando resolver, porém não encontram mais ônibus nem van para nos tirar daqui”, afirmou Paulo Sérgio, atacante do Al-Merreikh.
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O conflito
Iniciados no sábado (15), os combates na capital do Sudão, Cartum, e nas cidades vizinhas de Omdurman e Bahri são os piores em décadas. Especialistas temem que o conflito divida o país entre as duas facções militares que compartilharam a liderança sudanesa durante a transição política nos últimos anos.
Estes grupos são:
O Exército, liderado pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, que é comandante das Forças Armadas;
Um grupo paramilitar, comandado pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, que é chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF).
Em 2021, as duas facções, então aliadas, orquestraram um golpe militar no país, que passava por um período de instabilidade desde 2019, quando o então líder do país, Omar Bashir, foi destituído do poder após protestos generalizados. Com isso, al-Burhan passou a liderar um conselho de governo e Dagalo, conhecido como Hemedti, se tornou seu vice.
No entanto, desde então, diversos atritos surgiram entre os grupos, principalmente quanto à integração da RSF nas forças armadas e na futura cadeia de comando. Além disso, as facções divergem acerca do apoio a partidos políticos e a grupos pró-democracia.
Países anunciam operações especiais de resgate no Sudão
Quando os combates começaram em 15 de abril, ambos os lados culparam o outro por provocar a violência. O exército acusou a RSF de mobilização ilegal nos dias anteriores, e a RSF disse que o exército tentou tomar o poder total em uma conspiração com partidários de Bashir.
O que diz o Itamaraty
O g1 questionou o Itamaraty sobre as criticas dos brasileiros em relação à assistência do Governo do Brasil. No entanto, o órgão não respondeu sobre o assunto até a publicação desta reportagem.
Apesar disso, o órgão enviou uma nota em que diz que “o governo brasileiro segue empreendendo esforços para retirar todos os brasileiros em território sudanês tão logo quanto possível”. Ainda de acordo com o comunicado, “estabeleceu-se como prioritária a retirada dos brasileiros que se encontravam na capital, Cartum, onde houve grande parte dos conflitos nos últimos dias”.
O Ministério das Relações Exteriores afirmou na tarde deste domingo (23) que registrou a presença de 16 brasileiros na capital do Sudão. Desse total, 15 já deixaram a cidade nas últimas horas. De acordo com o governo brasileiro, entre elas 3 crianças que saíram da cidade “em companhia do pai, em comboio da ONU para o leste do país”.
Retirada de estrangeiros do Sudão
Além do Brasil, outros governos também estão negociando a retirada de seus diplomatas e civis do país. Veja abaixo um resumo:
Rússia: Planos de evacuação foram feitos, mas ainda são impossíveis de implementar de acordo com o embaixador de Moscou em Cartum. 140 dos cerca de 300 russos no país disseram que queriam ser resgatados.
Egito: Pediu para que seus cidadãos se abrigarem em casa até que a situação melhore no Sudão. Autoridades do país também afirmaram que um de seus diplomatas foi atingido por tiros, sem dar mais detalhes.
Arábia Saudita: retirou 91 sauditas e cerca de 66 pessoas de outras nacionalidades de em um navio saindo de Porto Sudão, principal porto marítimo do país.
Coreia do Sul: afirmou na sexta-feira que estava enviando uma aeronave militar para retirar seus 25 cidadãos no Sudão.
Canadá: suspendeu operações de trabalho em sua embaixada no país. Apenas alguns serviços estão sendo realizados.
Suíça e Holanda: afirmaram que estão enviando forças para retirar seus cidadãos.
Reino Unido: forças armadas do país concluíram neste domingo uma operação de retirada de diplomatas britânicos e suas famílias.

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