‘Juntos, mas separados’: sexóloga elenca prós e contras de casais LAT

Escolher viver um relacionamento à distância, mas com compromisso, é uma decisão que está se tornando cada vez mais comum entre casais modernos. O modelo LAT (Living Apart Together), onde parceiros optam por manter a autonomia em lares separados, promete a fusão perfeita entre amor e liberdade. Porém, como toda escolha, esse tipo de relacionamento traz vantagens e desafios que podem impactar a dinâmica do casal.

Para entender melhor os prós e contras de casais LAT, a sexóloga e terapeuta de casal, Claudia Petry, membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana); e especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC), nos ajuda a desvendar como esse método pode funcionar (ou não) para diferentes perfis.

A dinâmica do relacionamento LAT sugere que o casal tenha mais tempo de qualidade juntos – Foto: Getty Images/ND

O que são casais LAT

O termo casais LAT, ou “Living Apart Together”, refere-se a relacionamentos em que os parceiros mantêm residências separadas, mas estão comprometidos um com o outro.

“Esse modelo tem crescido em popularidade devido à valorização da autonomia, ao equilíbrio entre vida pessoal e relacionamento, e à evolução das normas sociais que aceitam formas não tradicionais de conviver. Em um cenário em que a individualidade é cada vez mais valorizada, os casais LAT refletem uma nova abordagem sobre amor e compromisso, permitindo que cada parceiro mantenha sua identidade ao mesmo tempo em que compartilham uma conexão emocional significativa”, explica a especialista.

Quais os prós e contras de casais LAT?

Vantagens de relacionamentos LAT

Preservação da individualidade: Segundo a sexóloga, uma das principais vantagens é a preservação da individualidade, maior independência e flexibilidade no relacionamento. “Nos relacionamentos LAT, cada parceiro pode manter sua identidade e interesses pessoais, além de desfrutar de maior independência ao tomar decisões sem a necessidade de compromissos diários sobre a organização do lar”, diz.

A preservação da liberdade é uma das vantagens dos casais LAT – Foto: Getty Images/ND

Flexibilidade: A flexibilidade é outro ponto positivo, permitindo que os casais adaptem suas rotinas conforme suas necessidades, o que facilita a gestão de compromissos profissionais e pessoais. Além disso, a separação física pode reduzir conflitos relacionados a hábitos e estilos de vida, permitindo que os casais se concentrem na qualidade do tempo juntos.

Conexão emocional e liberdade individual: Outro ponto explicado por Petry é que, apesar de viverem em locais diferentes, muitos casais LAT mantêm um forte compromisso emocional e um vínculo saudável, além de terem espaço para buscar crescimento pessoal e desenvolvimento profissional sem a pressão da convivência diária. Essas características tornam o modelo LAT uma opção atraente para aqueles que desejam equilibrar conexão emocional e liberdade individual.

Desvantagens de relacionamentos LAT

Falta de convivência: Entre as principais desvantagens está a falta de convivência. “Uma das principais limitações que observo é a falta de convivência diária, que pode dificultar a construção de uma intimidade profunda e a rotina compartilhada que muitas vezes fortalece os laços em um relacionamento”, explica a sexóloga.

Dificuldade na comunicação: “Além disso, a separação física pode levar a desafios na comunicação, pois os casais precisam ser particularmente claros e proativos para garantir que suas necessidades e sentimentos sejam expressos e compreendidos, o que pode ser mais complicado sem a interação constante”, ressalta.

A falta de convivência pode levar à falta de conexão emocional no modelo LAT – Foto: Getty Images/iStockphoto/ND

Insegurança: O fator “insegurança”, também pode ser somado nesta conta, já que a ausência de um contato físico regular pode levar a dúvidas sobre o comprometimento do parceiro ou a durabilidade do relacionamento. “Isso pode desencadear ciúmes ou desconfianças, especialmente se um dos parceiros se sentir excluído das atividades do outro”, pontua.

Excesso de individualidade: O excesso de individualidade também pode ser um problema, pois, embora a liberdade pessoal seja uma vantagem, ela pode se tornar um obstáculo se um dos parceiros sentir que a relação não está priorizando o tempo juntos ou se estiverem se distanciando emocionalmente”, pondera.

Dificuldade na resolução de conflitos: A especialista explica ainda que é importante não esquecer que, a falta de um espaço compartilhado pode dificultar a resolução de conflitos, já que as discussões podem ser menos frequentes e menos eficazes sem a presença física.

Pressão para ver o outro: “Por fim, a necessidade de planejar encontros e momentos juntos pode ser vista como uma pressão adicional, tornando o relacionamento menos espontâneo e mais dependente de agendas”, conclui.

Mas afinal relacionamento LAT vale a pena?

A intimidade dos casais LAT (Living Apart Together) possui uma dinâmica particular que pode representar tanto um desafio quanto uma oportunidade de fortalecimento da relação.

É preciso avaliar bem os prós e contras de casais LAT, antes de adotar esse modelo de relacionamento Foto: Getty Images/iStockphoto/ND

Segundo Claudia Petry, “a ausência de convivência diária em um relacionamento LAT pode dificultar a construção de laços emocionais profundos. Situações cotidianas que costumam fortalecer a intimidade, como pequenas interações do dia a dia, são reduzidas, o que pode criar uma sensação de desconexão temporal.”

Por outro lado, Petry explica que essa distância também pode trazer benefícios.

“A falta de convivência contínua pode fazer com que o tempo que os casais passam juntos seja mais intencional e significativo. Quando os encontros são planejados, existe uma maior valorização desses momentos, e isso pode aumentar tanto o desejo sexual quanto a conexão emocional.” Ela ainda elenca que “a liberdade individual proporcionada pelo modelo LAT permite que cada parceiro se sinta realizado por conta própria, o que pode enriquecer a relação ao criar um ambiente de apoio mútuo.”

Tendência em crescimento ou fenômeno temporário?

O modelo de relacionamento LAT vem ganhando espaço como uma alternativa aos moldes tradicionais, e, segundo Petry, esse crescimento está relacionado às mudanças nas expectativas sobre individualidade e relacionamento.

“Vivemos uma era onde o valor da autonomia e do espaço pessoal está mais presente. A pandemia, por exemplo, intensificou essa reflexão sobre como queremos viver nossas relações,” diz a especialista.

No entanto, Petry adverte que esse modelo não funciona para todos.

“Embora o LAT tenha se mostrado uma tendência em crescimento, sua permanência como uma escolha de longo prazo depende da habilidade dos casais de equilibrar essa individualidade com uma conexão emocional sólida,” destaca. “Relacionamentos são complexos, e cada casal tem necessidades específicas que vão determinar se esse arranjo funciona ou não.”

Sobre a possibilidade de o LAT ser uma fase temporária, Petry argumenta que, “não podemos afirmar que seja uma moda passageira, mas sim uma opção viável que está se tornando mais popular. O importante é que ambos os parceiros estejam alinhados em suas expectativas.”

E quando o assunto é a criação de filhos, ela reforça que essa escolha pode impactar significativamente a dinâmica do casal. “Ter filhos muitas vezes exige uma reavaliação do compromisso e da convivência, já que a criação de uma criança envolve mais colaboração e interação diária. Isso pode levar a ajustes no modelo LAT,” conclui Petry.

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