Dono de clínica citada em laudo falso diz que nunca atendeu Boulos e nega ter feito documento


Luiz Teixeira da Silva Junior, sócio da clínica Mais Consultas, disse em nota que seu nome e o de suas empresas foram utilizados sem o seu consentimento ‘por pessoa que lhe é desconhecida’. Ele já foi condenado por falsificar diploma de medicina e uso de documento falso no contexto de um esquema de desvio de dinheiro público. Marçal ao lado de Luiz
Reprodução/Instagram
Luiz Teixeira da Silva Junior, sócio da clínica Mais Consultas, empresa que aparece no laudo falso compartilhado por Pablo Marçal (PRTB) contra Guilherme Boulos (PSOL), afirmou que nunca atendeu o deputado e negou ter participado da elaboração do documento, que teve a veracidade contestada pelo Instituto de Criminalística de São Paulo.
Em nota, o empresário disse que seu nome e o de suas empresas foram utilizados sem o seu consentimento “por pessoa que lhe é desconhecida” (íntegra abaixo).
Ele apontou, ainda, que o médico José Roberto de Souza “nunca trabalhou ao seu lado”. José, que aparece como o responsável pela assinatura do laudo, morreu em 2022 e, segundo a família, nunca trabalhou na capital paulista. Uma das filhas do médico fez uma tatuagem com a assinatura do pai, completamente diferente da que consta do falso laudo.
Luiz Teixeira já foi condenado por falsificar diploma de curso de medicina e ata de colação de grau, por falsificar documento e uso de documento falso no contexto de um esquema de desvio de dinheiro público na Grande São Paulo.
O que diz Luiz Teixeira
Em nota publicada, Luiz Teixeira disse:
“Desde as primeiras horas da madrugada do sábado — dia 05 de outubro —, de forma inaceitável e sem justificativa, diversas acusações, ameaças e ofensas, têm sido direcionadas ao Dr. Luiz Teixeira da Silva Júnior, sua esposa e seus filhos, ocasionando grande angústia e apreensão em relação à integridade física e mental de todos. Em respeito, e compromissado com a transparência do processo eleitoral, o Dr. Luiz Teixeira, de maneira intencional, aguardou o encerramento do horário de votação deste primeiro turno para se pronunciar publicamente e esclarecer que não possui qualquer envolvimento na elaboração do laudo médico referente ao Sr. Guilherme Castro Boulos.
Ademais, esclarece que o Dr. José Roberto de Souza nunca trabalhou ao seu lado, assim como nunca prestou atendimento ao Sr. Guilherme Castro Boulos em sua clínica, ressaltando que o seu nome — e o de suas empresas — foram utilizados sem o seu consentimento por pessoa que lhe é desconhecida. Todos os fatos que estão sendo relacionados ao Dr. Luiz Teixeira serão devidamente esclarecidos nos autos da investigação, cujo resultado é de seu absoluto interesse.
Aclaramos, por fim, que o Dr. Luiz Teixeira está à inteira disposição das autoridades competentes para fornecer os esclarecimentos necessários”.
Condenações do dono da clínica
Luiz Teixeira da Silva Junior, sócio da clínica Mais Consultas, a empresa que aparece no laudo falso compartilhado por Pablo Marçal (PRTB) contra Guilherme Boulos (PSOL) por uso de drogas, é próximo do ex-coach.
Ele já foi condenado por falsificar diploma de curso de medicina e ata de colação de grau, por falsificar documento e uso de documento falso no contexto de um esquema de desvio de dinheiro público na Grande São Paulo.
Em sua conta no Instagram, que foi desativada após a repercussão do falso documento, ele se apresentava como patologista clínico, perito judicial, escritor, diplomata adido de saúde, e aparecia ao lado de famosos.
O g1 entrou em contato com um dos advogados de Luiz, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
Na busca pela defesa do empresário, o g1 conversou com um antigo advogado de Luiz, que também move uma ação contra ele na Justiça de São Paulo. Rogério dos Santos Pessoa alega que “não recebeu pelos serviços prestados ao cliente”.
“Liberei R$ 19 milhões de imóveis dele, ganhei o processo e ele nunca me pagou. O pessoal bate na casa dele e só a empregada atende. Eu tirei ele da cadeia e nunca me pagou.”
Diploma falso de medicina
Em 2020, a Justiça Federal de Porto Alegre (RS) condenou Luiz por uso de documento falso ao apresentar uma ata de colação de grau e um diploma falsos do curso de medicina para tentar se inscrever no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul a fim de obter registro profissional. A informação foi confirmada pela própria universidade.
Nesse caso, o empresário foi condenado a 2 anos e 4 meses de reclusão, além de multa, pelos crimes de uso de documento falso e falsificação de documento público.
Documento falso em esquema da saúde
Em 2017, a Justiça de São Paulo chegou a decretar a prisão preventiva de Luiz Teixeira por suspeita de crime de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro em um esquema de desvio de dinheiro público da Saúde de Cajamar, na Grande São Paulo.
No entanto, o Tribunal de Justiça de São Paulo apontou que a prova acusatória era insuficiente para condenação por peculato e lavagem de dinheiro.
Os desembargadores entenderam que, nesse caso, ele cometeu os crimes de falsificação de documento particular e uso de documento falso, condenando-o a 1 ano e 2 meses de reclusão. Ele não chegou a cumprir a pena e o crime prescreveu.
Jaleco do Einstein
Nas redes sociais, Luiz Teixeira da Silva Junior aparece em foto ao lado de Marçal usando um jaleco com o símbolo do Hospital Albert Einstein (foto acima).
Em nota, o Hospital afirmou que “o profissional em questão nunca atuou em suas unidades ou em qualquer outra atividade administrada pelo Einstein”.
A instituição disse, ainda, que o nome de Luiz “figura apenas na lista de alunos do curso de especialização de Captação, Doação e Transplantes de Órgãos e Tecidos, realizado em 2016, disponibilizado para profissionais da área de saúde em geral”.
Veja abaixo os indícios da falsificação do laudo:
Uma perícia técnica do Instituto de Criminalística de São Paulo concluiu, neste sábado (5), que a assinatura constante do laudo apresentado por Pablo Marçal (PRTB) contra Guilherme Boulos (PSOL) é falsa.
O documento é assinado pelo médico José Roberto de Souza, que já morreu e consta como inativo no Conselho Federal de Medicina (CFM);
A filha do médico José Roberto de Souza afirmou que a assinatura usada no documento é falsa e que o pai dela nunca trabalhou na capital paulista, especialmente na clínica “Mais Consultas”, no bairro Jabaquara, que consta no laudo.
O número do RG de Boulos tem um dígito a mais;
O texto do laudo tem diversos erros de ortografia (“por minha atendido”), inclusive o nome da clínica, que aparece com uma palavra no singular. “Mais Consulta” quando o correto seria “Mais Consultas”;
O número de componentes encontrados que comprovam o uso da substância no documento publicado por Marçal é a mesma quantidade que aparece em um documento publicado em uma matéria do g1 de 2019, sobre erros em resultados de exames toxicológicos no Rio Grande do Sul: cocaína positivo – 2,825 NG/MG e 0,5 ng/mg. A imagem é facilmente encontrada no Google pelos termos “teste toxicológicos cocaína positivo”.
Nota da campanha de Boulos:
“O documento publicado por Pablo Marçal é falso e criminoso e ele responderá e arcará com as consequências em todas as instâncias da Justiça – eleitoral, cível e criminal. Uma atitude inaceitável de quem prova não ter limites em sua capacidade de mentir.
Marçal mostra mais uma vez ser um criminoso recorrente, que usa de mentiras absurdas para atacar a honra e a reputação e tentar promover uma manipulação sem precedentes no processo eleitoral.
Não podemos normalizar esse tipo de método que já colocou em xeque a nossa democracia no passado recente e que, agora, ameaça a normalidade destas eleições. Marçal pagará pelos seus crimes.”
Candidatos manifestam repúdio e classificam como criminosa a atitude de Marçal:
Ricardo Nunes, prefeito de SP e candidato à reeleição pelo MDB:
O candidato Ricardo Nunes (MDB) comentou sobre o caso. “Boulos foi indecente quando atacou minha família. Boulos foi indecente quando normalizou o soco em Duda Lima. Boulos foi indecente quando me comparou a Pablo Marçal. Boulos foi indecente quando por diversas vezes mentiu sobre a minha gestão. Mas eu não sou Boulos, nem Marçal. Repudio veementemente o crime que vimos ontem. A Justiça precisa ser célere, analisar todas as provas e colocar um basta nesse jogo rasteiro da eleição para o comando da maior cidade do País.”
José Aníbal, presidente do diretório municipal do PSDB e candidato a vice na chapa com Datena:
“Pablo Marçal confirma, mais uma vez, que é um delinquente compulsivo e capaz de qualquer crime. O ataque a Boulos é gravíssimo. Feito com o propósito de tumultuar as eleições e fraudar a vontade do eleitor. É o momento certo para a justiça punir de forma exemplar esse inimigo das liberdades e da democracia.”
Tabata Amaral (PSB) comentou sobre o assunto em agenda neste sábado:
“Venho alertando há meses sobre quem é Pablo Marçal: um homem condenado, com histórico muito pesado, que só sabe criar mentiras. Ele ataca para poder aparecer, para que tudo seja em torno dele. Se for confirmado que aquele documento é falso, isso é muito grave. É motivo de prisão. Foi um ataque contra um adversário, mas não cabe aqui conveniência eleitoral. Fui a primeira que teve a coragem e a dignidade de desmascarar Pablo Marçal sem fazer conta sobre ganho eleitoral. Esse homem é um perigo, representa o que há de pior não só na política, mas em toda a sociedade. Tudo o que Pablo Marçal quer é que a gente passe as próximas 48 horas falando sobre ele. São Paulo não merece isso. Ele vai responder na Justiça.”

Adicionar aos favoritos o Link permanente.