Em depoimento, dona do bar falou em mais de 50 tiros em ‘faroeste’ na Zona Oeste do Rio

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Tiroteio em estabelecimento de Campo Grande terminou com quatro feridos e envolveu seis agentes de segurança – apenas um deles foi preso. Briga que começou no bar continuou em hospital. ‘Faroeste no Rio’: depois de 14 meses, delegacia instaura inquérito para apurar tiroteio em bar de Campo Grande
Bruna Cruz Pereira, dona do bar e restaurante Beco Meat Store, em Campo Grande, na Zona Oeste, disse em depoimento à Polícia Civil, que o tiroteio que terminou com quatro feridos contou com mais de 50 disparos na direção do estabelecimento lotado.
A confusão generalizada no local aconteceu em 30 de janeiro de 2022, mas somente na última terça-feira (25) as imagens ‘faroeste’ foram divulgadas pelo RJ2. O tumulto no bar contou com, ao menos, seis agentes de segurança e outras pessoas armadas.
Entre as cenas chocantes, é possível destacar imagens inusitadas: um homem com duas pistolas, um atirador que não larga seu copo, um rapaz ferido na cabeça bebendo cerveja, um homem agachado para escapar dos tiros e preocupado em não perder seu balde de bebidas, além de outro homem sentado no bar, tranquilo e calmo, enquanto tudo ao redor parece um caos.
Em depoimento, Bruna Cruz falou em mais de 50 tiros em ‘faroeste’ na Zona Oeste do Rio
Reprodução redes sociais
De acordo com o depoimento de Bruna Cruz, que a TV Globo teve acesso, a confusão começou por volta das 22h45. Bruna disse estar no caixa do estabelecimento quando ouviu um barulho de gritaria e uma briga entre clientes.
Segundo ela, os seguranças do bar foram acionados para tentar conter o tumulto. Sem sucesso, Bruna e mais alguns funcionários foram para a cozinha do bar para buscar proteção. Foi de lá, que ela teria escutado o primeiro tiro.
“Quando a declarante se encontrava na cozinha ouviu o primeiro tiro e posteriormente a declarante ouviu diversos disparos de arma de fogo. Na percepção da declarante foram mais de 50 tiros”, dizia o depoimento assinado por Bruna Cruz na 35ª DP (Campo Grande), na madrugada do tiroteio.
As investigações do MP e da Polícia Civil apontam o policial militar Felipe Augusto Cancellas como o autor dos disparos. Ele está preso desde o dia do crime e responde a um processo no 3ª Tribunal do Júri por quatro tentativas de homicídio e uma lesão corporal.
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Felipe Cancellas foi preso após confusão
Reprodução/TV Globo
Nas imagens obtidas pela TV Globo, Cancellas é o primeiro a sacar uma arma durante a confusão, ainda dentro do bar de Campo Grande. Contudo, ele não efetua nenhum disparo no interior do estabelecimento.
Testemunhas confirmam versão
Uma testemunha ouvida na investigação que os disparos foram feitos por “um indivíduo de blusa preta, que estava em um veículo Honda Civic de cor cinza”.
Outra testemunha do tiroteio no bar de Campo Grande é um homem que também terá sua identidade preservada. Segundo seu relato na delegacia, após a briga dentro do bar, Fabio Cancellas pega seu carro e para bem em frente ao bar. No depoimento, o trabalhador diz que o policial desembarca do veículo e “em boa condição de tiro começa a efetuar disparos em direção ao tumulto da briga dentro do bar”.
No documento que a TV Globo teve acesso, o trabalhador informa que não conseguiu contar o número de tiros disparados na direção do bar, mas conseguiu ver que Fabio Cancellas tinha duas pistolas nas mãos.
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Assim como o relato da dona do bar, o trabalhador também apresentou uma cena assustadora após a saída de Felipe em seu carro, depois de efetuar os disparos. Segundo os dois, o bar tinha sangue pelo chão, pessoas baleadas, uma parede totalmente quebrada e o teto caído.
Juiz converte prisão em preventiva
A namorada de Felipe Cancellas, Paula Nascimento de Souza, também foi baleada no tiroteio. Após o confronto no bar, os dois foram até o Hospital Municipal Rocha Faria, também em Campo Grande, para tratar os ferimentos no pé de Paula.
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No local, Cancellas se envolveu em mais uma confusão naquela noite. Ele se desentendeu com o policial militar Cleber Maciel Costa Pinheiro. Felipe deu uma coronhada em Maciel.
A confusão no hospital teve arma em punho, voz de prisão e mais três PMs envolvidos, dois que estavam no bar no tiroteio e um que estava de serviço, como plantonista na unidade de saúde.
O tumulto no hospital só terminou com a chegada de outras viaturas da PM, que acabou levando todos os envolvidos para a delegacia. Na unidade policial, os investigadores decidiram retornar no bar para interrogar testemunhas.
No começo da manhã do dia 31, Felipe Cancellas recebeu voz de prisão em flagrante, por tentativa de homicídio.
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No final daquela segunda-feira (31), o juiz Antonio Luiz da Fonsêca Lucchese, durante audiência de custódia, converteu a prisão em flagrante de Cancellas em prisão preventiva. Desde então, o policial militar segue preso na Unidade Prisional da PM, em Niterói, e respondendo à Justiça.
Em parte de decisão, o magistrado caracterizou os crimes de Fabio como “graves” e sua prisão como “necessária e proporcional”.
“(…) ele, policial militar, estaria num bar e, após uma confusão, teria ocorrido uma troca de tiros em que o referido indiciado teria sido visto efetuando diversos disparos de arma de fogo. (…) a proprietária do estabelecimento declarou que teriam sido efetuados mais de cinquenta disparos, o que, por si só, já denota a gravidade em concreto dos fatos”.
“Como se não bastasse, o indiciado (Cancellas) quando estaria no Hospital Rocha Faria para fins de prestar socorro à sua namorada teria, após outra discussão com um policial à paisana, que lá se encontrava, teria sacado uma arma em direção de tal policial, assim como ao policial de plantão no hospital. Segundo informado, ele teria colocado a arma no peito do policial plantonista, não se olvidando que ainda teria agredido o referido policial à paisana, de nome Maciel, com coronhadas nas mãos e em sua cabeça”, completou o juiz.
Andamento do processo
Em 14 meses, o caso de Felipe Cancellas já passou por três audiências de instrução e julgamento no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Em todas as oportunidades, o Ministério público tentou, sem sucesso, ouvir as testemunhas. Os promotores também pediram o HD original do bar, com todas as imagens feitas pelas câmeras de segurança do local naquele dia.
Segundo a denúncia do Ministério Público, “os crimes foram praticados por motivo torpe, vingança, em razão de uma briga ocorrida entre um amigo do denunciado, e frequentadores do bar”.
Na denúncia contra Fabio Cancellas, o MP também pede, além da condenação, o pagamento de indenização às vítimas do tiroteio.

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