Dois homens são condenados por liderar quadrilha que movimentou mais de R$ 10 milhões de idosos de SP na pandemia

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Grupo da capital paulista e Grande São Paulo foi identificado e preso pela Polícia Civil de Sorocaba, no interior do estado, em 2021. Golpe do motoboy movimentou dinheiro de contas bancárias de idosos no interior de São Paulo
Reprodução/TV Globo
A Justiça condenou por estelionato, organização criminosa e lavagem de dinheiro dois homens de São Paulo apontados como líderes do grupo que movimentou cerca de R$ 10 milhões roubados de idosos no interior paulista, em 2020, durante a pandemia de Covid.
Integrantes do grupo se passavam por atendentes bancários e abordavam as vítimas por telefone.
A decisão da juíza Daniella Camberlingo Querobim, da 3ª Vara Criminal de Sorocaba, no interior do estado, é de 12 de abril. O caso foi investigado pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) da cidade, que desarticulou a organização criminosa conhecida como “gangue do motoboy” em fevereiro de 2021.
Na época, foram realizadas 12 prisões e cumpridos 20 mandados de busca e apreensão em Barueri, Bragança Paulista, Santana do Parnaíba, Praia Grande e São Paulo.
O trabalho de investigação, que durou cerca de seis meses, começou após o registro de casos do golpe em que o criminoso diz para a vítima que o cartão de banco dela foi clonado. Em seguida, manda um falso funcionário até a casa da pessoa e afirma que precisa retirar o cartão para que seja bloqueado. De posse do cartão, a quadrilha realiza saques e compras.
A sentença determinou que parte dos R$ 384 mil apreendidos na casa de um suposto líder do grupo sejam usados para ressarcir as vítimas e encaminhado para um fundo do estado de São Paulo.
O homem suspeito de ser o motoboy do grupo foi sentenciado a quatro anos de detenção. Ele e os dois apontados por chefiarem o esquema permanecem presos. A Justiça negou pedidos de liberdade.
Material apreendido
Perícia encontra áudios que simulam atendimento de banco com grupo preso por ‘golpe do motoboy’
Reprodução
A perícia do Instituto de Criminalística analisou celulares, computadores e pendrives apreendidos com a quadrilha, identificou conversas entre o grupo e extraiu arquivos de áudio com mensagens de voz gravadas de atendimentos bancários.
São dezenas de arquivos que simulam citações de “validade do cartão”, “agência e conta”, “números do CPF”, “agência e conta” e até o som de “bip” de agências bancárias.
Golpe do motoboy
Durante a investigação, o Deic conseguiu identificar os suspeitos envolvidos no crime. Estima-se que eles tenham feito, pelo menos, 11 vítimas de Sorocaba e cidades da região.
“Ele falou: ‘Se o senhor está em casa, é sinal de que não está fazendo compras. Alguém tá usando seu cartão’. Eles convencem você que são do banco”, lembrou uma vítima, ao comentar uma conversa que teve com os criminosos por telefone.
Criminoso estacionando veículo na frente da casa de uma das vítimas
Reprodução/TV Globo
Em uma das imagens de câmeras de segurança, o motoboy apareceu estacionando e pegando rapidamente o cartão da vítima.
“O senhor tem envelope em casa? Tenho. O senhor, por favor, coloca o cartão, sela esse envelope e entrega que ele nem vai saber o que ele tá pegando”, recordou a vítima.
Em uma ligação de um idoso com a suposta central de atendimento do banco, o morador não atendeu a ligação do banco verdadeiro enquanto falava com um criminoso.
Vítima: Eles estão falando de onde foi comprado, passado o cartão. Olha, tão ligando
Criminoso: Eu acho melhor a senhora não atender porque podem ser os bandidos, tá? Não atende.
Vítima : Tá.
‘Central do crime’
Para ganhar a confiança, os criminosos pediam que o idoso mesmo ligasse no telefone que aparece no verso do cartão de crédito.
“Eles tinham um sistema, uma tecnologia de redirecionamento da ligação. Toda vez que ele ligasse para o 0800, na verdade, era redirecionado pra última ligação que ele recebeu. Seria a ligação do fraudador. E ele conseguia utilizar desse sistema só com telefone fixo”, explicou, na época, o delegado Rodrigo Ayres.
Tudo isso era feito numa espécie de central do crime: uma sala de telemarketing criada só para aplicar golpes, segundo a investigação.
A organização criminosa agia de forma rápida e certeira e encomendava uma lista de possíveis alvos com uma empresa.
Prisão do motoboy
De acordo com o boletim de ocorrência, Rodrigo Roberto Dias foi capturado em Peruíbe, no litoral de São Paulo, em 2021. A defesa dele não foi encontrada pelo g1.
A Polícia Militar fazia patrulhamento pela região quando, pela Avenida Terezinha Rodrigues Kalil, abordou o motorista de um carro. Durante a revista, foram encontrados um celular e uma pochete com porções de crack e cocaína.
Indagado, o suspeito alegou que tinha pegado a droga em uma casa com um homem conhecido como “Nego Bala”. Já no imóvel, os policiais encontraram Rodrigo dormindo em um colchão.
Também foram identificados no endereço uma arma de pressão, porções de drogas, celular e R$195. O procurado disse que apenas a arma, um notebook e o dinheiro eram dele.
Os réus
Por trás da quadrilha especializada em roubar velhinhos no estado de São Paulo estavam dois líderes. Um deles é Rafael Costa, um músico da capital.
Segundo a polícia, ele era responsável por conseguir dados das vítimas e coordenar o bando. Já quem cuidava da tecnologia para desviar as ligações das vítimas para os bandidos e dar legitimidade ao golpe seria Alexandre Rangel Macedo.
Ainda segundo a polícia, Alexandre e Rafael contavam com as esposas para movimentar o dinheiro dos golpes. Elas aparecem em imagens, em saques e mais saques na boca do caixa. O caso foi mostrado no Fantástico.
No apartamento de Alexandre, a polícia encontrou quase R$ 400 mil em espécie. A defesa de Rafael disse que as acusações seriam esclarecidas ao longo do processo e que a mulher dele era inocente. O advogado de Alexandre e da esposa também negou participação dos clientes no caso.
Golpe do ‘falso motoboy’ já roubou mais de R$ 10 milhões de idosos só em SP

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