Mesmo com aumento de mais de 500% nos casos de dengue em dois anos, MG reduz gastos com combate ao mosquito


A Biofábrica Wolbachia, que vai combater a transmissão das doenças pelo Aedes Aegypt, começou a ser construída na semana passada, mas só deve ficar pronta em 2024. SES alerta para o aumento do número de doenças causadas pelo aedes aegypt
Paulo Whitaker/Reuters
O número de casos de dengue em Minas Gerais subiu 564% nos últimos dois anos: em dezembro de 2021, foram confirmadas 15.441 pessoas com a doença; enquanto em abril deste ano, já são 109.172.
Em contrapartida, o orçamento do governo estadual destinado ao combate das chamadas arboviroses, no entanto, foi na contramão e reduziu cerca de 40% entre 2021 e 2022:
🦟Caiu de R$ 123,2 milhões para R$ 76,1 milhões. Se considerarmos o período dos últimos dois anos, a redução é ainda mais significativa, já que até agora o governo gastou R$ 129,5 mil.
Biofábrica de mosquitos: aposta do governo de Minas para enfrentar epidemia de dengue deve ficar pronta só em 2024
Os valores foram informados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), mas até a manhã desta quinta-feira (27) não estavam no portal da Transparência do governo de Minas. O g1 tenta acessar a página desde o início da semana. No entanto, não há dados disponíveis para a pasta da saúde.
A SES foi questionada sobre o fato e também sobre o motivo de redução nos investimentos, mas não respondeu até a última atualização desta reportagem.
O órgão disse apenas que o valor investido em 2023 é bem inferior aos anos anteriores porque o maior volume de recursos é transferido no segundo semestre de cada ano, visando a preparação para o período chuvoso seguinte.
Estes valores são definidos, segundo a SES-MG, conforme Resoluções e Deliberações pactuadas no âmbito da Comissão Intergestores Bipartite (CIB), que conta com representantes da SES-MG e das Secretarias Municipais de Saúde.
🦟Seguindo tendência, o número de óbitos também aumentou nesses dois anos. Em dezembro de 2021, foram seis mortes confirmadas por dengue. Neste ano, já são 48.
Aumento de chikungunya
🦟Além da dengue, a chikungunya, que é outra doença transmitida pelo mesmo mosquito Aedes Aegypt, também teve crescimento no período, passando de 5.367 casos, em dezembro de 2021, para 21.930 nesta quinta-feira (27). No caso de óbitos, há dois anos, foi registrada uma morte, enquanto neste ano já são 14.
O pesquisador da Fiocruz Minas, Fabiano Duarte Carvalho, explica que se observou que as doenças provocadas pelo Aedes Aegypt têm um processo cíclico, de altas que ocorrem, geralmente, a cada três anos, podendo o intervalo ser maior ou menor. E, que, as ocorrências tendem a ser mais volumosas no verão, em que há altas temperaturas e maior volume de chuvas.
Para ele, as ações de combate deveriam ocorrer antes deste período crítico, de preferência, no inverno.
“Seria importante que as campanhas de engajamento fossem feitas um pouco antes de chegar neste período crítico, tentar fazer as ações tanto por parte do poder público quanto pelas pessoas. As ações no período de inverno, de menor volume de chuva, também são muito importantes, porque é o período em que o mosquito está no ambiente, mas em menor quantidade. Mais fácil combater o inimigo no momento em que ele está mais fraco”, afirmou.
Casos confirmados de doenças transmitidas pelo Aedes Aegypt
Dengue
Dezembro 2021: 15.441
Dezembro 2022: 70.421
Abril 2023: 112.313
Chikungunya
Dezembro 2021: 5.367
Dezembro 2022: 6.392
Abril 2023: 21.930
Zika
Dezembro 2021: 25
Dezembro 2022: 63
Abril 2023: 21
Obras da biofábrica
Fiocruz solta Aedes aegypti com Wolbachia
Reprodução/TV Globo
As obras da Biofábrica Wolbachia, iniciativa que pretende frear a transmissão de doenças pelo mosquito Aedes Agypt em Minas Gerais, começaram na última semana, segundo o governo estadual.
A fábrica vai “produzir” e liberar mosquitos com a bactéria wolbachia, um microrganismo intracelular que não pode ser transmitida para humanos ou animais. Mosquitos que carregam essa bactéria têm a capacidade reduzida de transmitir os vírus para as pessoas, diminuindo o risco de surtos de dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Prevista no acordo de reparação firmado com a Vale após o rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019, a biofábrica atenderá, em um primeiro momento, 22 municípios do Paraopeba.
Conforme estabelecido no acordo, a Vale tem a responsabilidade de construir, equipar e mobiliar o laboratório, além de custear o funcionamento por cinco anos. O valor estimado de investimento é de R$ 57 milhões. As obras só devem ficar prontas no ano que vem.
Os trabalhos na biofábrica serão conduzidos pela SES-MG, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o World Mosquito Program (WMP) – iniciativa internacional que atua na proteção das pessoas às doenças transmitidas por mosquitos Aedes aegypti.
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