Fisioterapeuta ‘vira’ livreira para seguir carreira de avô e constrói sebo de livros em Minas Gerais


Cristina Pizarro Bonani é gaúcha, mas há 22 anos mora em Itajubá (MG). O sebo criado por ela começou com 100 exemplares e hoje tem mais de 15 mil produtos, entre livros, vinis, CDs, DVDs e gibis. Fisioterapeuta ‘vira’ livreira para seguir carreira de avô e constrói sebo de livros em Minas Gerais
Alessandra Mohallen
A leitura é um hábito que se conquista com o tempo. É preciso persistência e dedicação. Quem gosta de ler, comprar livros é como se fosse um vício. Foi justamente essa paixão que fez com que Cristina Pizarro Bonani deixasse a fisioterapia para se tornar livreira. Hoje, ele é dona de um sebo, que nada mais é do que uma livraria que comercializa livros usados.
Cristina, mais conhecida como “Cris do Sebo”, é gaúcha, mas mora em Itajubá há 22 anos. Além de fisioterapeuta, a livreira era professora universitária.
O amor de Cris pela leitura veio de família. O avô dela era livreiro e responsável por um setor de uma livraria em Santa Maria (RS).
“Ele foi um autodidata e amante da literatura e uma pessoa na qual sempre me espelhei. A vida foi sendo vivida e aqui estou eu repetindo os passos do meu avô, com muito orgulho”.
Avô de Cris foi inspiração para ela se tornar livreira. Na foto, ele posa com amigos na livraria onde trabalhou no RS.
Arquivo pessoal
A venda de livros começou como um hobby. Ela vendia os livros do pai, dos irmãos e os dela pela internet para ter uma renda extra e também ver como seria a venda dos produtos usados. Até que, em 2011, o que era um passatempo se tornou sua ocupação principal.
“As pessoas passaram a me conhecer como aquela que compra e aceita doações de livros. Minha casa virou uma grande biblioteca, com todos os espaços tomados por livros e discos. As pessoas passavam e perguntavam se eu estava de mudança, aí percebi que estava um pouco demais. Comecei a vender livros em 2011, lá se vão 12 anos de diversão, aprendizado, muito trabalho duro e mudanças até que a empresa se tornasse o que é hoje”.
Fisioterapeuta segue carreira de avô, ‘vira’ livreira e constrói sebo de livros em Minas Gerais
Alessandra Mohallen
Uma surpresa em forma de sebo
Escondido em um bairro residencial de Itajubá está o sebo da Cris. Diferente do que muitos possam pensar, o local é arejado, atraente e aconchegante. A loja foi construída na garagem da casa dela.
“Eu tinha esse propósito , que a minha loja parecesse limpa, agradável, organizada, eficaz na forma de atendimento, rápida no envio. Diferente do que o pessoal tem geralmente em mente quando pensa em sebo. Apesar de muitos sebos também serem assim hoje em dia, ainda fica na imaginação aquele local escuro, empoeirado, etc”.
O sebo é uma livraria onde são comercializados livros e outros produtos como vinis e CDs usados. Quando começou, em 2011, Cris tinha 100 exemplares. Hoje, já são mais de 15 mil itens.
“Um sebo não é um empreendimento que vem pronto. Costumo dizer que cada sebo tem a personalidade do seu livreiro e vai tomando forma gradualmente. O acervo reflete o gosto e o jeito de ser do proprietário”.
Cris na sua loja de livros usados em Itajubá
Alessandra Mohallen
Na loja da Cris, por exemplo, as pessoas podem encontrar CDs, vinis, DVDs, livros e gibis. Além da compra e venda, o sebo é um ótimo lugar para quem quer conhecer e encontrar pessoas interessantes e compartilhar conhecimentos. Por isso, lá ela desenvolve eventos como clubes de leitura, degustação de cafés, cervejas, vinhos, clube de tricô, sessão de histórias infantis, roda de jogos de tabuleiro, sessão de cinema, palestras e rodas de conversas.
“O público que frequenta minha Casa Sebo é muito variado. Desde crianças, adolescentes até idosos. Alguns não conhecem o conceito de Sebo, mas tenho o maior prazer em apresentar a todos. Minha expectativa para o futuro é a melhor possível”.
Desconexão
Apesar de muitos dizerem que livro físico é ultrapassado, Cris acredita no poder da leitura e que eles nunca cairão no esquecimento, assim como os discos.
“Cada vez mais urgente que tenhamos espaços para escolhermos nossas leituras e músicas independentemente de algoritmos ou de influenciadores. Fazer ’coisas off-line’ é vital para mantermos nossa saúde mental e nosso raciocínio crítico”.
Livros do Sebo da Cris em Itajubá
Mirella Magda
Cris contou que no dia a dia em seu sebo percebe a necessidade das pessoas em deixarem de usar as redes sociais por alguns momentos do dia.
“Costumo dizer que a internet é uma ferramenta, um trampolim para impulsionar quem somos e o que fazemos. Que sejam coisas legais, que possamos deixar como legado e exemplo para os outros e compartilhadas com as pessoas. O livro é o mais antigo ‘Ensino a Distancia’ do mundo. Por um valor baixo, você consegue acessar pensamentos de pessoas interessantíssimas de várias partes e épocas do mundo”.
Cris na sua loja de livros usado em Itajubá
Alessandra Mohallen
Os sebos também dão destino a produtos que poderiam ser considerados lixos, caso ficassem parados. Para a livreira, passear no sebo é sempre uma surpresa.
“Quando compra em um sebo, você está ajudando a preservar um negócio local relacionado à cultura. E, principalmente, está escolhendo algo livre de opiniões de ‘gurus’ e algoritmos. Usando sua história, suas preferências, seu instinto e sua visão crítica na busca de algo para seu entretenimento. Sem preconceitos com o livro usado, acolhendo suas imperfeições e a história que cada volume carrega”.
O sebo da Cris também está presente nos marketplaces. Além dos livros, às vezes o cliente pode encontrar até um café com bolinho de chuva, algo bem “casa de mineiro”.
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